PAPO RETO
Manoel Soares fala sobre a honra no peito
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados
Lembro que, quando criança, um amigo da minha família me dizia que, pra eu ser homem de verdade, teria que "pegar muitas mulheres". Eu achava esquisita essa observação, mas não questionava, pois o desejo de todo menino é ser homem. Na escola, uma vez, uma professora, ao me ver chorar por tomar uma bolada no rosto, disse que eu precisava aprender a honrar o que eu tenho no meio das pernas.
Essas duas situações que vivi são só exemplos de como os meninos são ensinados diariamente como ser machistas e, muitas vezes, homofóbicos. Estimular um comportamento de predador sexual e induzir o sufocamento dos sentimentos é a maneira mais comum de matar alguém em vida. Aos poucos, começamos a acreditar que sentir vontade de chorar ou viver intensamente uma relação afetiva não condiz com a masculinidade completa.
Conselho
Quando olho pra trás e penso no conselho que foi dado pelo amigo da minha família, entendo que eu não peguei muitas mulheres, mas sim fui pego por elas. Cada uma dessas pessoas que passou pela minha vida abriu portas de conhecimento, vivência e me estimulou a ser uma pessoa melhor. E sou grato a todas elas.
Já o conselho da professora, minha mãe conseguiu corrigir no mesmo dia, quando cheguei em casa. Ao dizer a ela que fui orientado a honrar o que tinha no meio das pernas, dona Ivanete me disse pra honrar o que tinha no peito.
Hoje entendo que, se queremos que nossas filhas sejam bem tratadas no futuro, precisamos educar os homens de maneira diferente. Não existe agredido sem agressor e, como ninguém nasce agredindo, nós, pais, somos os professores e precisamos mudar isso.