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PAPO RETO

Manoel Soares e os pais imaginários de sua infância

Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados.

07/08/2021 - 05h00min


Paramount Pictures / Divulgação
Eddie Murphy, em "Um Tira da Pesada", foi um dos pais imaginários de Manoel Soares

Essa parada de não ter pai me levava para conflitos constantes envolvendo paternidade. Quando os amigos contavam suas aventuras cotidianas com seu pai, para mim era como se falassem que cavalgaram em uma baleia. Para sanar minha falta de pai, eu projetava a figura paterna em homens negros que via na TV. Denzel Washington em Duelo de Titãs foi meu pai por anos, Eddie Murphy no filme Um Tira da Pesada era outro pai eu tinha. Samuel L. Jackson no filme Coach Carter foi um pai mais rígido. Conforme fui amadurecendo, conheci Sidney Poitier no filme Ao Mestre com Carinho – era o pai coroa que tinha em meus devaneios. 

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Quando assisti Independence Day com Will Smith, entendi que eu era filho daquele cara que salvava o mundo dos alienígenas e, por anos, achei que quando crescesse ia ter aquelas orelhas gigantes. Meu delírio com ele só caiu quando conheci o pai careta e afetuoso do Carlton Banks em Um Maluco no Pedaço, nessa hora eu já tinha entendido que não tinha pai, mas que Tio Phill era o pai que todos queríamos ter na minha quebrada. Meu último pai foi o Julius do Todo Mundo Odeia o Chris, um homem comum trabalhador, cheio de defeitos e que amava a família com uma intensidade tão grande que trabalhava em dois empregos. 

Esses pais acabaram moldando um pouco do pai que eu sou. Cada vez que vejo meus pequenos me olhando nos olhos, com aquele jeito de quem está em paz, meu menino interior fica feliz, porque de alguma forma encontro na alegria deles o pai que buscava nas telas. O mais maluco é que hoje alguns meninos que, como eu, não tem pai, ao me verem fazem o mesmo caminho que fiz. Só que agora eu sou um dos pais imaginários da tela.


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