Piquetchê do DG
CTG no Morro da Cruz vai produzir gás de cozinha a partir de lixo orgânico
O projeto social Gurizada Campeira, que ensina danças e tradição gaúcha na zona leste de Porto Alegre, foi contemplado com um biodigestor
Os jantares da Gurizada Campeira, no Morro da Cruz, zona leste de Porto Alegre, ainda não voltaram, mas quando forem retomados, serão aquecidos pelo gás de cozinha produzido no próprio CTG. Isso porque o projeto social — que ensina a dançar, andar a cavalo e outros costumes da tradição gaúcha em galpão na Estância Pasqualetto — foi contemplado com um biodigestor. Trata-se de um sistema autônomo que decompõe lixo orgânico, como restos de alimentos e fezes de animais, criando gás metano, que será utilizado para abastecer o fogão da cozinha. O sistema de decomposição também dá origem a um fertilizante líquido, para ser usado em hortas.
Antes da pandemia, cerca de 200 jovens entre quatro e 15 anos estavam sendo atendidos pelo projeto, que é comandado pelo tradicionalista Marcelo Santos de Souza desde 2018. Com o aumento gradual no número de alunos, cresceu também o volume de festas e bailes do quilinho (em que cada família leva um quilo de carne), os quais Marcelo espera voltar em breve. Como consequência, subiram as despesas, já que as aulas são gratuitas e o CTG se mantém por meio de rifas e recursos da Estância.
— Fomos conseguindo trazer as crianças para dentro e, quando vimos, o projeto ficou grande. Quase toda sexta tínhamos um evento. Agora, com essa estrutura de biodigestor, teremos gás pra poder fazer nossas jantas tendo menos despesa, além de ensinar as crianças sobre energias renováveis — afirma Marcelo.
A estrutura de produção de energia limpa foi instalada no dia 3 de setembro e poderá ser abastecida com restos de alimentos — legumes, frutas, carnes, laticínios e até ossos que sobram do churrasco — e com o esterco dos animais da Estância Pasqualetto, que cria cavalos, gado, galinhas e ovelhas. O biodigestor aceita até 10 quilos de restos orgânicos por dia e até 60 quilos de esterco, podendo gerar cerca de seis horas de gás.
A implementação da tecnologia no CTG foi possível depois que a entidade foi inscrita em um projeto financiado pela Google e pela ONG Iclei (Governos Locais pela Sustentabilidade, na sigla em inglês), executado na Capital pela ONG Centro de Inteligência Urbana de Porto Alegre (Ciaupoa). Além de biodigestores, outras duas escolas da região, a Emef Professora Judith Macedo de Araújo e a Emef Morro da Cruz, receberam da iniciativa também placas fotovoltaicas, para a produção de energia elétrica a partir do sol.
A ação também é uma forma de levar à comunidade do Morro da Cruz, familiares e alunos do grupo Gurizada Campeira o conhecimento sobre sustentabilidade e economia circular, ensinando sobre a possibilidade de reaproveitar o lixo em novos processos, menos danosos à natureza.
— O Marcelo criou no morro um projeto que tirou as crianças da rua através da dança. Estamos ampliando esse sonho, criando ali um polo de educação ambiental. O CTG no RS abrange uma quantidade enorme de jovens, crianças, adultos, e essas pessoas não podem ser privadas de saber que existe essa opção de geração de energia — afirma Tânia Pires, da Ciaupoa.