Pandemia no Brasil
Novo estudo indica que negros têm mais chances de morrer por covid-19 do que brancos
Desigualdades raciais e de gênero são apontadas como fatores que contribuem para o risco aumentado
As chances de morrer por covid-19 é maior entre homens negros e mulheres brancas e negras em comparação com homens brancos, segundo conclusões de um novo estudo realizado por grupo de pesquisadores ligados à Rede de Pesquisa Solidária. Analisando dados estatísticos das mortes pela doença no ano passado, os estudiosos concluíram que, dentro da chamada "pirâmide social", as desigualdades raciais e de gênero contribuem para o mais risco. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
Os estudiosos fizeram uma análise dos dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde sobre 67,7 mil pessoas que morreram de covid-19 em 2020 — parcela que representa cerca de um terço dos óbitos no período. Foram consideradas pessoas entre 18 e 65 anos com ocupação profissional na área da saúde.
O estudo também indicou que as chances de morrer por covid-19 é maior para mulheres negras do que para as brancas, sendo que as que trabalham em serviço doméstico têm 112% mais chances de perder a vida por conta de complicações provocadas pelo coronavírus.
— Pensávamos que a mortalidade de negros era maior por conta das atividades mais expostas ao vírus, mas nem sempre isso é verdade — destacou à Folha o sociólogo Ian Prates, pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento e coordenador do grupo que realizou a pesquisa.
Em números absolutos, houve mais mortes em grupos ocupacionais que são grandes empregadores, como comércio e serviços (6.420), agricultura (3.384) e transportes (3.367). De acordo com o estudo, para homens negros, os riscos enfrentados são maiores do que os enfrentados pelos brancos em todas as atividades, com exceção da agricultura.
Entre os números de óbitos, os pesquisadores não encontraram diferenças relevantes entre as mulheres negras que estão na "base da pirâmide" e para as que ocupam cargos de nível superior, pois são poucas as que estão nessa área. Segundo o estudo, a única exceção nesse padrão é para as enfermeiras, cujo risco de morte é 23% maior do que homens brancos.
— O fato do risco ser maior até para quem exerce profissões de nível superior mostra o tamanho da tragédia. Isso sugere que mesmo os negros que ascenderam profissionalmente continuam expostos a fatores de risco que aprofundam as desigualdades — conclui Prates.