Imunização
Terceira dose: o que se sabe até agora sobre a eficácia da aplicação de reforço contra a covid-19
Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) destaca que dados de estudos sobre vacinas disponíveis no Brasil mostram segurança e excelente resposta
A ciência segue investigando a pandemia, e o conhecimento vai sendo compartilhado e guiando especialistas e autoridades sanitárias enquanto o coronavírus ainda se dissemina — e se modifica, com o surgimento de variantes. Ainda que o esforço seja mundial, a realidade de cada país precisa ser considerada, dadas as inúmeras disparidades e também as diferentes vacinas contra a covid-19 aplicadas em cada lugar. Até aqui, algumas nações optaram por oferecer uma terceira dose a certos grupos, e os indicativos são de que a iniciativa proporciona bons resultados.
No Brasil, por enquanto, estão autorizados a receber a aplicação de reforço idosos a partir de 60 anos (conforme anúncio do ministro da Saúde feito nesta terça-feira), imunossuprimidos (indivíduos com deficiências no sistema de defesas no organismo) e profissionais de saúde, de acordo com a disponibilidade de estoques e na medida em que as orientações técnicas são repassadas pelo governo federal a Estados e municípios.
Estudos essenciais ainda estão em andamento, mas dados preliminares são promissores. No Uruguai, pesquisadores do Instituto Pasteur de Montevidéu e da Universidade da República observaram aumento de 20 vezes nos anticorpos de voluntários que ganharam uma dose de Pfizer após o esquema com duas aplicações de CoronaVac. No Brasil, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) iniciou, em agosto, uma pesquisa para avaliar a necessidade da terceira dose e se a “mistura” (intercambialidade) de imunizantes é vantajosa. A Janssen, vacina da Johnson&Johnson, de dose única, já mostrou excelente resposta de melhora nos índices de proteção com uma segunda dose.
O Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, recomendou a aplicação do reforço em pessoas a partir de 65 anos, residentes de casas geriátricas, adultos sob certas condições médicas e trabalhadores de determinados setores. Na segunda-feira (27), o presidente Joe Biden arregaçou a manga da camisa diante dos fotógrafos, tentando incentivar também os americanos que resistem até mesmo à primeira dose.
A necessidade de uma terceira injeção para a população em geral também é avaliada pela comunidade científica global. Juarez Cunha, pediatra e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), ressalta a importância do critério da equidade. Enquanto persistir uma desigualdade tão grande nos percentuais de vacinados mundo afora, mantém-se alto o risco do surgimento de novas variantes. Ou seja, antes de se pensar em aplicar o reforço na população como um todo, no caso de nações com bom desempenho na imunização, é preciso pensar nos milhões de pessoas sem qualquer escudo contra a doença.
No caso específico do Brasil, que começou a campanha com a CoronaVac, em janeiro, concluiu-se que seria necessária uma complementação a partir do momento em que se constatou a queda no nível de proteção num período de quatro a seis meses — o que não tira os méritos da vacina da farmacêutica chinesa Sinovac, que tem como parceira o Instituto Butantan, de São Paulo.
— Qualquer uma das vacinas continua mostrando excelente proteção contra casos graves e óbitos, mas essa proteção vai caindo com o tempo. Algumas caem mais rápido — pontua Cunha.
Os imunizantes da AstraZeneca e da Pfizer entraram no Programa Nacional de Imunizações (PNI) depois, com intervalos mais espaçados. Por exemplo, enquanto nos EUA a aplicação da Pfizer seguiu a orientação da bula, com segunda dose após 21 dias, o Brasil chegou a estipular em 12 semanas a espera entre as duas injeções — o Rio de Janeiro passou a adotar três semanas para quem tem mais de 40 anos. Esse retardo, no final das contas, pode ser benéfico para os brasileiros.
— Provavelmente, o intervalo maior vai dar uma proteção mais longa — comenta Cunha. — Não significa que não vai precisar de terceira dose — adverte.
Para o reforço dos que já estão habilitados, a indicação do Ministério da Saúde é dar preferência para a Pfizer — que tem bom quantitativo previsto de entrega — e, se não houver, AstraZeneca ou Janssen, independentemente do laboratório fabricante da vacina usada anteriormente.
— Para todas as vacinas daqui, já temos dados de estudos mostrando segurança e uma excelente resposta — frisa o presidente da SBIm, repetindo uma reclamação frequente entre seus pares, que é da falta de divulgação de mais dados sobre os estudos envolvendo a CoronaVac.
Para o futuro, é preciso observar o que acontece para tomar outras decisões.
— A prioridade é vacinar o máximo possível de pessoas com a primeira dose, vacinar com a segunda e vacinar os públicos já definidos com a terceira. Teremos tempo para pensar como será com o restante da população: se vamos ter que incluí-la ou se vamos ter que aguardar a equidade nos outros países — conclui Cunha.