Direto da Redação
Cáren Cecília Baldo: "Experimentar e viver"
Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano
Nunca tinha convivido com gatos, apenas de longe. Tive cães, e amei muito todos eles. Desde criança, minha referência de bicho de estimação eram cachorros, até porque minha experiência com gatos foi meio traumatizante para a minha mãe: eu deveria ter uns três aninhos quando um gato me arranhou bem perto de um dos olhos. Com receio – e também por nunca ter convivido com os felinos –, minha mãe sempre falava que eram “traiçoeiros” e recomendava ficar longe.
Mal sabia ela que eu fazia carinho em qualquer cachorro na rua – e talvez isso fosse até mais perigoso para uma criança do que estar perto de um gato, já que a criança é meio estabanada quando se aproxima do bicho. Falta o traquejo do tempo para que ela não o entenda como um animal de pelúcia, aquele que não reage aos mil abraços (bem) apertados. Eu sempre tive a sorte de encontrar conexão nos bichinhos que acariciava aleatoriamente: nunca levei mordida.
Sentido
Pois eu disse que não tinha convívio com gatos. Até que, por uma situação que veio com a pandemia, virei “avó” de um. Quando chegou aqui em casa, foi um misto de sentimentos no meu peito: o amor gigante que tenho pelos animais e a experiência lá da infância, o olhar da minha mãe. Bicho traiçoeiro, será? Mas com essa carinha tão fofa? Com essas patinhas delicadas? Com esses olhos gigantes e curiosos? Humm, tem umas unhas compridas e afiadas aí, como será que eu vou lidar?
Quase dois anos depois, estou entregue a ele. Síndrome de Felícia (aquela personagem dos desenhos infantis que esmagava de amor os bichinhos, lembra? Se não lembra, joga no Google que logo aparece) a pleno. Brincamos, trocamos carinhos e ele me inspira todos os dias com seu andar elegante, sua delicadeza e plena confiança de que pode ter sua barriga coçada por horas por uma humana. Diferença para um cachorro? Nenhuma. Todos me dão vontade de cuidar, proteger e afofar. Traiçoeiras são ideias colocadas na nossa cabeça que, por vezes, não fazem o menor sentido.