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Vale do Sinos

Com embalagem biodegradável feita do caroço da manga, estudantes são finalistas de prêmio nacional de ciências

Experimento foi realizado na Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, em Novo Hamburgo

27/10/2021 - 22h06min


Tiago Boff
Tiago Boff
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Lauro Alves / Agencia RBS
Da esquerda para a direita: Schirlei, Clara, Maria Eduarda, Schana e Thielly, com a forma feita do caroço de manga

A iniciativa criativa de uma escola pública gaúcha pode ajudar a modificar o entendimento sobre o uso do plástico no dia a dia. Em um experimento no laboratório de química, três alunas da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha desenvolveram uma embalagem biodegradável, tendo como componente principal o caroço da manga. O bioplástico foi moldado em fôrmas semelhantes às da base de cup cakes e pequenos bolos, mas tem como objetivo substituir, por exemplo, o embalagens em redes de fast-foods. 

— Principalmente na quarentena, muito lixo se acumulou em casa, e por vezes ele para em lugares inadequados, nos oceanos e até matam espécies marinhas. Podemos diminuir a poluição com o nosso potinho, guardando maionese ou batata frita — justifica uma das autoras do projeto, Thielly Kailany de Freitas dos Santos, 18 anos. 

A instituição fica em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, e é ligada à Secretaria Estadual da Educação. Tem 2,7 mil alunos matriculados. No ensino médio e técnico, os estudantes cursam quatro anos letivos, além de um estágio iniciado no semestre seguinte à conclusão do currículo. É necessária a apresentação de um trabalho final, antes de encerrarem os estudos, uma espécie de TCC, como exigido no ensino superior. Foi para essa demanda que as jovens iniciaram a pesquisa, ideia que surgiu em outubro de 2020, em um momento mais do que trivial: quando Maria Eduarda Prado Viegas, 19 anos, terminou de comer uma manga.

— Era um período em que eu comecei a observar mais, para opções do nosso projeto científico. Eu tava comendo a manga e notei que o caroço era fibroso, aí comecei a pesquisar e mandei e-mail pra professora, mesmo nas férias — admite. 

Inicialmente, o trio pensou em explorar o material na indústria têxtil. Porém, o impacto do plástico comum – que, estima-se, leva 400 anos para se decompor – pesou na escolha, e o bioplástico foi escolhido como projeto de pesquisa. Em média, o novo composto criado se dissolve em três semanas. 

O utensílio biodegradável levou o grupo aos finalistas do Prêmio Respostas para o Amanhã, promovido pela Samsung e organizado pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). As gurias são a única equipe do Rio Grande do Sul na lista das 10 que concorrem ao troféu.

Clara da Silva Brum, 18 anos, crê na mudança do mundo através da ciência. 

— É o que a gente quer, mudar o mundo. Mudando as pessoas, para elas mudaram o mundo — idealiza. 

A próxima etapa do concurso será entre 12 e 17 de novembro, com a votação do júri popular no site respostasparaoamanha.com.br. Haverá ainda a escolha de três projetos pela comissão julgadora. 

As estudantes também criaram uma conta no Instagram, onde é possível acompanhar a evolução do trabalho.

Como a embalagem é produzida 

Lauro Alves / Agencia RBS
A manga, o caroço e a forma feita com o reaproveitamento do resíduo da fruta

Em laboratório, o processo leva cerca de 21 dias para ser executado: primeiro, o caroço da manga é secado ao sol, de uma a duas semanas. Depois, é cortado em pedaços menores e triturado no liquidificador. Com a espécie de serragem que se obtém, é criada a formulação biodegradável, adicionando amido, glicerina e água. Aquecidos até adquirirem consistência, os insumos são levados a uma estufa, para a secagem final antes da prensa, que dá o formato desejado. 

Professora de Química, Schana Andréia da Silva, 43 anos, estima que esse processo, em escala industrial, poderia ser reduzido a um único dia, desde que se use o maquinário indicado. Uma das orientadoras do projeto, ela pensa além: a fibra extraída da fruta pode ser usada para fabricar recipientes maiores, como caixas, desde que mantenha o propósito de sua concepção, que é ser de fácil deterioração. 

Atualmente, a embalagem é recomendada para alimentos secos, evitando que rasgue com a umidade. Caso evolua para carregar líquidos ou comidas muito gordurosas, precisará de um impermeabilizante biodegradável.

— Aí podemos pensar em usar como pote de sorvete ou até de café — vislumbra a professora, dupla na orientação do trabalho. 

Apesar de ter aparência frágil, o material é resistente, garantem as docentes e suas “pupilas” da ciência. A cor, de tons amarelo escuro e marrom, se deve a não passar pelo processo de clareamento, nocivo à natureza. 

Também professora de Química, Schirlei Viviane Rossa, 38 anos, se mostra feliz com a repercussão da descoberta.

— Esperamos que todos os alunos se sintam provocados e tentem encontrar respostas para os problemas do dia a dia — finaliza. 

Ouça a entrevista da equipe no programa Gaúcha Hoje, na Rádio Gaúcha 



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