PAPO RETO
Manoel Soares: "Presente para o universo"
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados
Berço não é destino. Essa frase me foi dita por um amigo na África do Sul em 2010. Na época, ele se referia à condição dos negros em um país onde os conflitos raciais se estenderam por anos. Daquele dia em diante, eu tomei a decisão de que não faria do meu lugar de origem o meu lugar de destino. Para isso, tive que abandonar posturas e pensamentos que pesavam como pedras em uma pessoa que se afoga. O pior tipo de escravidão é aquela que aprisiona a mente e o coração na dor dos nossos pais, avós ou ancestrais.
Toda a beleza do que eu sou enquanto pessoa vem das minhas raízes e da forma de viver a vida. Porém, não posso reduzir a minha existência à capacidade que o mundo tem de me fazer sofrer.
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O primeiro passo que dei foi a decisão de pensar minha vida de hoje em diante. Nesse momento, decidi que de hoje em diante vou batalhar para que meus filhos não digam frases que eu disse durante toda a minha vida, entre elas “Minha família é muito pobre”, “Meu pai não me entende”, “Eu até queria, mas faltou dinheiro”. Essas e outras frases que fizeram parte da minha infância e adolescência deixariam de existir na vida dos meus filhos. Sei que não posso evitar que eles sofram ou tenham problemas, mas quero que eles tenham os problemas da geração deles, da vida deles, e não que herdem as minhas dores, assim como minha mãe herdou as dores dos meus avós e, eu, por consequência, herdei as dores dela.
Sou dono do meu destino e essa conquista quero entregar aos meus filhos. Esse é o maior presente que podemos dar ao universo quando recebemos a possibilidade de sermos melhores: pessoas capazes de mudar o mundo.