Direto da Redação
Michele Vaz Pradella: "Será que estamos vivendo direito?"
Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano
Ano de 1996, eu criança, assistia às imagens do acidente que vitimou os Mamonas Assassinas. Entre lágrimas, lembro de abraçar minha mãe e perguntar: por quê?
2021, as imagens do avião despedaçado no qual viajava a cantora Marília Mendonça fazem com que eu, hoje adulta, calejada por outras dores da profissão e da vida, volte àquela mesma pergunta: por quê? Por que tão jovem? Por que desta maneira trágica? Por que arrancada da vida no auge? Por quê? Por quê? Por quê?
Por que 242 jovens mortos na boate Kiss? Por que mais de 600 mil brasileiros vitimados por um vírus que veio do outro lado do mundo? As perguntas se acumulam. Não adianta questionar a morte. Sempre ficaremos sem resposta.
Verdades
Diante das tragédias sem explicação, nos resta questionar a vida. Será que estamos vivendo da melhor forma possível? É natural que, em quase dois anos de pandemia nos assombrando, fiquemos mais reflexivos. Quem não fez promessas lá no início deste pesadelo real, de viver mais plenamente quando tudo acabar? Encontrar os amigos com mais frequência, passar mais tempo com a família, viajar mais, dizer a quem amamos o quanto os amamos...
As tragédias nos batem como um tapa na cara, como uma forma de nos acordar para verdades inconvenientes sobre nossa própria existência. Mas não deveria ser preciso uma pandemia ou um acidente de avião com vítimas jovens para nos despertar para o que está bem ali, debaixo do nosso nariz. É como diz a canção “Epitáfio”, dos Titãs: “Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer...”. A grande questão é que, na música, há uma série de verbos no passado. E, se vocês não repararam, o título explica que trata-se de alguém que já não está mais neste mundo para recuperar tudo o que deixou de fazer.
Que nossas vidas não sejam uma coleção de verbos no pretérito imperfeito. Conjugue o futuro e faça com que ele se torne presente. Em todos os sentidos da palavra.