Praça Julio Andreatta
Retirada de pista de skate improvisada na Zona Norte é criticada por skatistas
Local é bacia de contenção do Dmae, argumenta prefeitura; blocos de concreto que haviam sido colocados por praticantes do esporte no local, há cerca de dois meses, foram destruídos
A remoção de "uma pista de skate improvisada" da Praça Julio Andreatta, no 4º Distrito, em Porto Alegre, vem gerando críticas por parte de um grupo de skatistas que utilizava o local para praticar o esporte. Blocos de concreto que haviam sido colocados por eles ali, há cerca de dois meses, foram destruídos. Segundo a prefeitura da Capital, o local é uma bacia de contenção do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) e precisa estar livre de qualquer volume para conter possíveis alagamentos.
A Júlio Andreatta foi revitalizada pela Cyrela Goldsztein e entregue em abril, junto a outra praça, a São Geraldo, que fica em frente. Nas praças, a empresa reformou quadras esportivas e criou um cachorródromo. A bacia de contenção da Júlio Andreatta fica em um espaço rodeado por arquibancadas, que passou a ser utilizado pelos skatistas.
Em um evento de skatistas, há cerca de dois meses, os blocos de concreto foram colocados para servirem de obstáculos e proporcionar manobras. Nesta semana, eles foram removidos, segundo o presidente da Federação Gaúcha de Skate, Regis Lannig. Segundo ele, o local é utilizado por skatistas há cerca de 20 anos e é considerado ponto tradicional do esporte na cidade. Nas redes sociais, praticantes de skate também criticaram a remoção.
— No começo, a gente chegava ali e tinha que varrer, limpar o espaço para poder usar. Sabemos que o local não é oficialmente uma pista de skate, mas nós ajudamos a recuperar uma praça que estava abandonada pelo poder público. Nós ressignificamos o espaço, demos uma finalidade a ele. E hoje vemos nossos mobiliários sendo retirados sem diálogo. Por tudo que o skate prestou para aquele local, é justo que a gente pelo menos seja chamado para conversar — pontua Lannig.
O presidente da federação conta que o espaço já serviu de cenário para fotos usadas em revistas e vídeos de campanhas do esporte. Com a prática do skate na praça, o local passou a ter mais movimento e trouxe mais segurança para a região, acrescenta.
— Quem perde é a população, porque acaba descaracterizando um local que já é tradicional. É comum o esporte ocupar locais que não são usados, que estão esquecidos, e os recuperar. É triste que isso não seja levado em consideração.
A Secretaria de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) justifica que o local não é pista de skate, mas sim uma bacia de contenção do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), utilizada para prevenir alagamentos. A prefeitura não confirmou se foi a responsável pela remoção do mobiliário.
"Quando chove, a água da chuva se acumula nesta bacia, para depois ser encaminhada para as galerias e condutos pluviais na Avenida Polônia, que passam abaixo e no entorno da praça. Nos dias de chuvas intensas, este local serve como um grande reservatório. Mas, quando o tempo está seco, o local pode ser utilizado pela população. No entanto, como se trata de um sistema público de drenagem, é necessário realizar um projeto de engenharia e planejamento para a implantação de qualquer equipamento no local, tendo em vista que pode interferir e danificar o espaço, cuja função é diminuir os alagamentos na região", disse a Smamus em nota.
A pasta informou que "se coloca à disposição dos interessados" que quiserem apresentar projetos alternativos no espaço para a prática do skate.
Diretor de Incorporação da Cyrela Goldsztein, Luiz Paludo explica que o projeto de revitalização da praça, feito pela empresa, foi aprovado pela prefeitura. Ele afirma também que não foi a Cyrela que removeu o mobiliário.
— Havia uma ideia inicial de usar aquela quadra, pensamos em colocar goleiras, mas tomamos conhecimento de que o espaço é uma bacia de contenção. O ideal é não colocar nenhum volume ali, para evitar que, em dias de chuva, as pessoas utilizem o espaço e acabem se machucando, já que ele enche de água. Portanto, acabamos desconsiderando — afirma Paludo.
O diretor explica que, como a praça já está pronta, com área para crianças e pets, não há espaço para construir uma pista de skate no local:
— A bacia ocupa grande parte da praça. Para criar uma pista, esses espaços para crianças, por exemplo, teriam de ser removidos.
Reunião com o prefeito
No final da manhã, um grupo de skatistas se reuniu com o prefeito Sebastião Melo para tratar do caso. Ele determinou ao secretário de Governança Local e Coordenação Política, Cassio Trogildo, que desenvolva uma alternativa com demais órgãos da prefeitura.
— Vamos dar um encaminhamento, mantendo o diálogo na construção de uma solução, que atenda à demanda e esteja dentro dos padrões técnicos para o espaço — afirmou o prefeito.
O secretário se comprometeu a conversar com a Smamus sobre a viabilidade de uma possível reinstalação dos equipamentos na praça.