Direto da Redação
Felipe Bortolanza: "Socorro, Papai Noel"
Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano
Quando abracei o jornalismo como minha missão de vida, o principal motor da profissão era divulgar uma notícia. Desde criança, achava fantástico descobrir algo e contar a história. Lembro bem da vez que descobri que Papai Noel não passava de uma lenda.
Eu tinha sete anos (naquela época, sem internet, a inocência durava muito mais em Erechim) e havia pedido uma bicicleta. Horas antes da tradicional chegada do Bom Velhinho (que chegava de Chevette), eu jogava bola com vizinhos na rua. Quando vi meu pai se aproximando com seu Passat, vindo do centro, desviei minha atenção do jogo para o porta-malas do carro que balançava ao entrar na garagem. Foi então que percebi um pedaço de um guidão. “Rá, então é assim”.
No dia seguinte, já de posse de outros indícios colhidos durante a visita do Papai Noel, apresentei as provas aos meus pais e levantei a verdadeira história por trás dos presentes natalinos. Sem saber, foi naquele dia que venci minha primeira fake news.
Lendária, inocente e cheia de boas intenções, mas é fake news. Mesmo já correndo nas veias o sangue de jornalista, respeitei o tempo para não estragar as festas natalinas de minha irmã e dos meus primos mais novos. Entendi que aquela mentirinha não lhes causaria mal: eu os ajudaria a conter a frustração quando eles também descobrissem.
Passados muitos Natais, me peguei este ano fazendo um pedido em silêncio. Quase que querendo voltar ao tempo da minha inocência, antes do flagra do guidão da minha bici. Pedi ao Bom Velhinho que desse um jeito para que ele fosse a única fake news deste mundo. Lembrei a ele que sou jornalista porque gosto de contar histórias verdadeiras. E que, ultimamente, muitos de meus colegas de profissão precisam se dedicar para desmentir histórias falsas. E isto é muito mais triste do que descobrir o que está por trás dos presentes de Natal.
Socorro, Papai Noel. Estamos de saco cheio de fake news.