Coluna da Maga
Magali Moraes e os vasos de pneus
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Garanto que você já viu eles por aí. Ou até mesmo fez um. Objetos que ganham outra utilidade daquela original sempre chamam a minha atenção. Um pneu foi feito pra rodar quilômetros, não ficar parado. Pra proteger motoristas e pedestres, não flores e plantas. Quem teve a ideia de transformar pneus em vasos? Queria criar uma barreira pra afastar cães? Acabou criando um novo produto de reaproveitamento. Virou moda. Confesso que nunca achei bonito. Aliás, sempre torci o nariz ao ver um.
Até o dia em que eu realmente prestei atenção em um vaso de pneu. Não sei se foi a cor da tinta (tem a versão branca e a colorida) ou a combinação com a folhagem dentro. Sei lá, enxerguei alguma poesia. A pessoa que pintou o pneu se deu ao trabalho de comprar tinta, passar duas demãos, esperar secar, botar terra dentro e plantar a muda. Também foi atrás de um pneu velho encostado numa parede ocupando espaço, juntando água da chuva e mosquitos. E assim o pneu ganhou uma nova vida.
Ativa
Me coloquei no lugar do pneu, acho que foi isso. Fiquei imaginando a vida ativa que ele tinha antes, rodando faceiro noite e dia pelas ruas da cidade, se sentindo parte da rotina de uma família. Ou até mesmo a serviço de uma empresa. O carro da firma, sabe assim? Pneus de carros de aplicativo rodam muito, desgastam logo, duram pouco. E se fosse um pneu que levou e buscou muitos adolescentes nas festinhas? Ou era de um carro que quase nem saía da garagem, e agora vive no sol e na rua.
Será que fazem vasos de pneu de ambulância? De viatura da polícia? De carro de reportagem, como as que o DG faz, levando repórteres e fotógrafos pra buscarem informações importantes? Bota pneu experiente nisso. Agora me pergunto se as folhagens se sentem protegidas ali dentro ou levemente sufocadas. Os vasos de pneus decoram canteiros, jardins e praças. Aparecem em lugares que estavam mal cuidados. Foi a iniciativa de alguém. Quem sou eu pra julgar?