Coronavírus
Com nova onda de covid-19, aumenta a procura por vacinas no RS
Autoridades registram crescimento na procura por doses, mas desconhecem real impacto porque sistema de registro de vacinas do Ministério da Saúde segue fora do ar
O medo da quarta onda de covid-19, gerada pelo avanço da variante Ômicron após as festas de fim ano, está levando gaúchos aos postos de saúde do Rio Grande do Sul para receber a vacina atrasada, afirmam autoridades.
Não há estatísticas consolidadas porque o Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI), programa do Ministério da Saúde responsável pelo registro de doses aplicadas, segue instável um mês após o ataque hacker e impossibilita o download de dados. Desde 10 de dezembro, o Rio Grande do Sul artificialmente estagnou em 70% de toda a população com duas doses.
Mas o secretário-executivo do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems-RS), Diego Espindola, afirma que postos de saúde notam uma maior procura por doses vacinas contra a covid-19 – sobretudo de segundas doses e em especial de jovens, que registravam a maior abstenção.
Especialistas vêm apontando que a nova onda de Ômicron está afetando primeiramente jovens, que são quem mais se aglomera em bares, restaurantes e festas.
— As pessoas se assustaram com essa quarta onda, o aumento da procura por vacina é real. A gente queria que não fosse por susto do Ômicron, e sim por interesse natural. As pessoas veem as notícias, entendem que aumentou o número de casos e começam a procurar as unidades de saúde. A segunda dose nos jovens a gente tinha visto pouca adesão, agora, teremos cobertura maior — afirma Espindola.
O porta-voz dos secretários municipais da Saúde do Rio Grande do Sul acrescenta que postos de saúde aproveitam a alta procura por testagem para checar se o indivíduo está com dose atrasada e, caso o resultado dê negativo, encaminhá-lo para tomar a segunda ou terceira dose, se for o caso.
— Quando as pessoas procuram teste, a unidade básica de saúde coloca o CPF da pessoa, vê que o esquema vacinal não está completo e tenta convencer a tomar a dose. Também aproveitamos para mobilizar as pessoas a se vacinarem contra a influenza. Temos quase 600 mil doses da vacina da influenza em unidades básicas de saúde do Rio Grande do Sul. É um número expressivo que poderia estar quase zerado — afirma.
Antes das festas de fim de ano, segundo Espindola, a vacinação já tinha perdido a velocidade — a ponto de municípios sequer buscarem novas doses no armazém mantido pelo governo do Estado para estoque de doses.
— Após esse estouro da Ômicron, o estoque do Estado foi inclusive reforçado porque se notou aumento de procura do vacinação — informa o secretário-executivo do Cosems.
SES diz não ter como avaliar aumento
A Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul (SES-RS) informou que não há como avaliar aumento de procura por vacinas até que o sistema do Ministério da Saúde responsável pelo registro de doses retorne. Questionado, o governo estadual não respondeu se há aumento de procura por municípios.
Novo Hamburgo é um dos municípios que registrou aumento de procura. Em 6 de janeiro, quando a prefeitura realizou um drive-thru de vacinação, mais de 1,7 mil pessoas tomaram doses de Pfizer – normalmente, a média é de 800 por dia. O município ainda vacinou 815 indivíduos contra a influenza. A procura é tão grande que novamente será exigido comprovante de residência na cidade para se vacinar contra o coronavírus.
— As notícias que temos visto em países do mundo todo, mais o aumento significativo da procura por atendimento, estão fazendo as pessoas irem atrás da vacina. Por saberem que a Ômicron está circulando e é mais transmissível, isso desperta a consciência — afirma o secretário da Saúde de Novo Hamburgo, Nasson Luciano.
Em Lavras do Sul, município de 7,4 mil habitantes na Região Central, o secretário municipal da Saúde, Cacildo Delabary, afirma que melhorou bastante a procura por vacinas contra a covid-19 na primeira semana de janeiro.
— Havia certa resistência, principalmente para tomar a segunda dose. Desde que começou a aparecer a Ômicron, o pessoal começou a procurar as unidades básicas de saúde. Muitas pessoas estavam bastante receosas, mas, com essa nova onda, houve medo das pessoas com a contaminação. Aumentou também bastante a busca por terceira dose — diz Delabary.
O aumento não é isolado. Na cidade do Rio de Janeiro, a procura por vacinas cresceu 40%, informou a prefeitura carioca ao jornal O Globo. Em dois dias, mais de 1,8 mil pessoas buscaram se imunizar contra a covid-19 na cidade. Já no Estado de São Paulo, o percentual de faltosos caiu em 24%, reportou o UOL.
Em Porto Alegre, a busca por vacinas se manteve estável, com uma média de cerca de 10 mil doses diárias, segundo a prefeitura – a contabilidade é manual, já que o sistema do Ministério da Saúde caiu.