Testagem
É preciso refazer teste de covid após resultado positivo? Infectologistas são contrários; entenda
Para especialistas, respeitar tempo de isolamento é o mais importante
Enquanto nações europeias começam a suspender restrições contra a covid-19, mesmo com a variante Ômicron em circulação, no Brasil, além de o país alcançar o marco de 70% da população com esquema vacinal em duas doses, ainda restam dúvidas sobre a quantidade de testes a serem realizados após o paciente positivar para a doença.
GZH ouviu três infectologistas que foram unânimes em ressaltar: indivíduos que testaram positivo para covid-19 não necessitam repetir o exame após o período indicado de isolamento, independentemente do tipo de teste realizado. Eles afirmam que o resultado pode ficar positivo por muitos dias após a infecção, especialmente se foram testados com RT-PCR, pela alta sensibilidade do teste.
— O RT-PCR vê material genético e ampliará qualquer parte do vírus que estiver na mucosa nasal. Como a mucosa nasal leva até três meses para que haja renovação completa das células, se houver um resquício de material genético de algum vírus, mesmo que morto, o teste RT-PCR ainda poderá identificar e positivar por um período de três meses — explica Andrea Dal Bó, médica infectologista no Hospital Virvi Ramos, em Caxias do Sul, e membro da Sociedade Sul-Riograndense de Infectologia (SRIG).
Andrea lembra de um estudo realizado na Holanda para avaliar se um novo RT-PCR positivo significava vírus ativo ou não. O estudo mostrou que, após o período de dez dias, não havia mais vírus viável. Algumas pessoas permaneciam com RT-PCR positivo, mas não com um vírus ativo. Até por isso, destaca Andrea, não há a indicação de ficar repetindo RT-PCR para retorno ao trabalho nem para ver se tem uma infecção ativa ou não.
O presidente da Sociedade Rio-grandense de Infectologia, Alessandro Pasqualotto, que também é professor na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), aponta que não é recomendado repetir o teste de RT-PCR nos 90 dias que se sucedem à infecção. O vírus, frisa Pasqualotto, começa a ser transmitido cerca de dois dias antes do início dos sintomas e a transmissão segue de três a cinco dias. Por isso, as estratégias mais recentes encurtaram o período de isolamento para sete dias, para pessoas vacinadas e que estejam sem sintomas.
A infectologista Raquel Stucchi, professora da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), indica que, se a pessoa se mantiver assintomática, deve permanecer em isolamento por dez dias e não precisa repetir o teste:
— Em algumas situações, admite-se sair do isolamento no D7 (sétimo dia), também sem realizar testes, mas mantendo a máscara N95 até D10 (décimo dia). E até o D10 esta pessoa não deve viajar, frequentar ambientes fechados e ter contato com idosos e imunossuprimidos. O dia da coleta do exame que veio positivo é considerado o dia zero — reforça Stucchi.
Andrea Dal Bó acrescenta que estamos vivendo um momento de escassez de testes. Então, completa a médica, é importante que estes testes, antígeno e RT-PCR, sejam usados de forma racional e direcionada às pessoas sintomáticas.
— Particularmente, não sou favorável ao uso de testes para o retorno ao trabalho. Ao menos que sejam profissões que exijam um retorno mais rápido, como profissionais da saúde e da segurança pública. Nestas situações, vejo que existe local para retestagem. Mas não deve ser otimizado de uma forma ampla para retorno ao trabalho — finaliza Andrea.