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A "covid dos vacinados"

"Estamos diante de um tsunami", diz infectologista sobre aumento de casos de covid-19 no Brasil 

Vacinados contra o coronavírus, apontam especialistas, têm mais chance de ter apenas forma branda da doença

06/01/2022 - 09h31min

Atualizada em: 06/01/2022 - 09h47min


Aline Custódio
Aline Custódio
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Roni Rigon / Agencia RBS

Virologistas e infectologistas consultados por GZH fazem um alerta: a pandemia de covid-19 está num momento explosivo no Brasil devido à variante Ômicron, e ainda afirmam que a dose de reforço da vacina contra o coronavírus e a imunização das crianças são fundamentais para evitar o colapso no sistema de saúde.

Os especialistas preveem um janeiro complicado, com explosão de casos de covid-19 e também de influenza H3N2. Segundo o virologista e coordenador do Laboratório da Microbiologia Molecular da Feevale, Fernando Spilki, se isso se refletirá numa pressão maior no serviço de internação e de UTI dependerá muito do tamanho do surto, atingindo, principalmente, os não vacinados ou com esquema vacinal incompleto. 

— As pessoas precisam estar cientes de que haverá necessidade de faltar ao trabalho, de evitar determinados eventos sociais, as viagens poderão ser prejudicadas e teremos seguramente um grande número de infecções. Por mais atenuada ou mais leve que seja a infecção, como tem sido denotado para a variante Ômicron, uma porcentagem das pessoas ainda continuará internando. Atingindo, principalmente, indivíduos não vacinados ou vacinados apenas com primeira dose ou com esquema vacinal incompleto ou feito há mais tempo — explica Spilki. 

O chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Eduardo Sprinz, aponta que a dimensão da situação só poderá ser determinada daqui a algumas semanas. 

— Em duas ou três semanas, teremos a dimensão do estrago que ocorreu e que acontecerá. A única coisa que sabemos agora é que os casos cresceram de forma exponencial. É o que ocorreu na África do Sul e na Europa e o que está ocorrendo agora nos Estados Unidos. A notícia boa vem da África do Sul, que, depois de quase seis semanas, começou a ver os casos diminuírem. Vamos torcer que ocorra o mesmo aqui — relata Sprinz.

Em entrevista ao Estúdio Gaúcha, na noite desta terça-feira (4), o virologista e pesquisador do Instituto Todos Pela Saúde Anderson Brito destacou que a imunização de crianças e a dose de reforço da vacina contra o coronavírus são essenciais para evitar o aumento dos casos graves de covid-19 e o colapso no sistema de saúde. 

Conforme o pesquisador, entre as preocupações no combate à pandemia estão o baixo número de testes feitos no Brasil e os problemas na divulgação dos dados, devido ao ataque hacker aos sistemas do Ministério da Saúde. Ainda na entrevista, Brito afirmou que, em 2020, as infecções duplas por coronavírus e outras infecções respiratórias somaram somente 20% dos casos, pois havia distanciamento social e uso correto das máscara. Mas elas voltaram a se tornar mais comuns a partir do aumento das flexibilizações.

Spilki completa dizendo que além da etiqueta contra a covid-19, a população havia aderido à vacinação contra a influenza em 2020, algo que não ocorreu em 2021. 

— Do ano passado para cá, começou a mudar e agora é algo que agravou muito. Temos um surto instalado de influenza, uma variante Darwin H3N2 ocorrendo junto com uma variante de grande expansão de covid-19, que é a Ômicron. Teremos muito maiores chances de encontrar coinfecções, algo que é corriqueiro no universo das doenças respiratórias, mas que neste momento será ainda maior — destaca Spilki. 

A vacina contra a influenza que será distribuída no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2022 já está em produção pelo Instituto Butantan. Ela será trivalente, composta pelos vírus H1N1, H3N2, do subtipo Darwin, e a cepa B. O Brasil vive um surto de influenza H3N2, e o imunizante será importante para conter o espalhamento do vírus.

— Mesmo vacinas feitas com outros tipos virais próximos podem induzir alguma proteção e, especialmente, o que sabemos, tanto para H1N1, quanto para as influenzas sazonais, como H3N2, é que várias vacinações ao longo da vida também promovem uma melhora da imunidade cruzada. Então, é importante que as pessoas que, de repente, não tenham se vacinado busquem a vacinação e aquelas que estão com o calendário em dia, assim que sair a nova vacina de influenza, busquem a vacinação para evitar eventuais complicações — orienta Spilki. 

O virologista comenta ainda que a explosão de casos se deve às pessoas terem deixado de se proteger, aliado aos encontros e festas nos períodos de Natal e Ano-Novo e, ainda, às aglomerações:

— Coloca tudo isso junto com uma variante muito mais transmissível e é o que estamos vendo agora: uma explosão de casos. Agora, estamos diante de um tsunami. Nunca houve tantos contaminados ao mesmo tempo. Mas os que estão ocorrendo em pessoas vacinadas são mais brandos.

Segundo o chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Eduardo Sprinz, neste momento inicial, os primeiros passos poderiam ser parar as festas, as aglomerações e não começar o futebol com público. As demais ações, porém, dependerão do quanto for explosiva esta nova onda de disseminação da covid-19. 

— Lutamos pela vacina para que as formas graves não ocorram. Vamos ver se a gente só sobrecarrega a porta de entrada, sem precisar de internações. Estou chamando de a "covid dos vacinados", é uma doença que causa sintomas brandos. Óbvio que ocorrerão casos graves, mas infinitamente inferior ao ano passado — finaliza Sprinz. 




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