PAPO RETO
Manoel Soares: "Cada vez que aplaudimos a morte de alguém, parte dos que nos faz humanos morre também"
Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados.
A maldade é um vírus que se espalha mais rápido que o vírus da covid. Um suspeito de cometer um crime absurdo contra uma criança em frente a um shopping em Porto Alegre foi pego por moradores e espancado. As imagens são terríveis, ele amarrado com a boca toda estourada. Muitos até estão magoados, achando que minhas linhas são para defender o cara.
Na verdade, eu quero é preservar a minha humanidade e a sua, meu amigo leitor, pois cada vez que aplaudimos a morte de alguém, parte do que nos faz humanos morre também. O desprezo que muitos bandidos têm pelas vidas de suas vítimas não pode nos contaminar a ponto de pensarmos como eles, achando que têm que morrer mesmo.
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Óbvio que vão me mandar mensagens dizendo: “Se fosse um filho seu, você ia querer matar”. É verdade, mesmo não sendo meu filho tenho que fazer esforço gigante para não levantar as mãos para o céu e dizer: menos um. Meu esforço se deve ao fato de que se eu ficar feliz com a morte, por mais que ela pareça justa, estarei agindo como o bandido. Um cara muito importante para humanidade chamado Friedrich Nietzsche disse uma vez: “Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”.
Temos que vigiar para que nosso coração indignado não se torne tão sombrio como o coração dos monstros que condenamos, senão seremos nós a sermos condenados em breve.