Coluna da Maga
Magali Moraes e o mar chocolate
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Bem que fazem as mães-d'água. Escolhem as águas clarinhas pra curtir o litoral gaúcho. Nossas canelas, coxas e braços que se cuidem. Já aconteceu nesse verão e em tantos outros. Vai dizer que não é uma grande ironia o mar estar limpo e verdinho justamente quando elas estão lá dentro queimando todo mundo? Mas tirando Torres, é coisa rara o mar do RS manter suas águas limpas por muito tempo. Ainda bem que sempre dá pra curtir as fotos dos amigos esnobando em Santa Catarina e Nordeste.
Ser gaúcha é mergulhar num grande copo de Nescau pra vencer o calor, e depois lutar pra desencardir o forro achocolatado de biquínis, maiôs, sungas e calções. Tava pensando nisso sábado passado, observando o pessoal tomar banho no chocolatão que estava o mar. Aquela nata marrom boiando nas ondas, grudando nos cabelos, entrando dentro de bocas e olhos. Cenas fortes até pra uma chocólatra. Queimaduras, só as de sol _ que é outro clássico do verão, não importa onde.
Limite
Sabe o que também nunca muda? As mães e os pais na beira da água, gritando e abanando pra chamar a atenção da criançada que passou do limite aquático permitido. A corneta dos sorveteiros. As araras cheias de roupas e mulheres ao redor. Os baldinhos perdidos. O frescobol e alguém correndo pra buscar longe a bolinha. O vento Nordestão virando os guarda-sóis. A água avançando nas cadeiras, levando chinelos e encharcando cangas. Os castelos de areia. A vontade de catar conchinhas.
Sim, dá pra se divertir mesmo que a cor do mar não colabore. E quem não gosta de torrar a pele no sol pode enganar a torcida exibindo um tom dourado (leia-se amarronzado) numa selfie pós mergulho em dia de chocolatão. Talvez essa característica do mar gaúcho nos faça valorizar ainda mais os momentos de mar limpo. São poucos, mas existem. Dá a sensação de estar na hora certa, no lugar certo. Se jogue na água e aproveite a onda clarinha, a espuma branquinha. Nescau, só em casa.