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Onda de Ômicron entra em queda no RS, mas Carnaval e aulas presenciais podem provocar repique

Especialistas temem novo aumento e preveem melhora significativa apenas entre março e abril, quando cenário pode voltar à realidade de dezembro

16/02/2022 - 08h42min

Atualizada em: 16/02/2022 - 08h44min


Marcel Hartmann
Marcel Hartmann
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Jonatan Sarmento / Arte GZH

A onda de covid-19 gerada pela Ômicron finalmente começa a entrar em queda no Rio Grande do Sul, segundo estatísticas da Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS) e especialistas entrevistados por GZH. Todavia, o nível de transmissão segue alto – e há receio de que Carnaval e volta às aulas presenciais provoquem repique, o que adiaria em algumas semanas a chegada a um cenário mais seguro. 

O primeiro indicador a apresentar queda foi o de casos: em 28 de janeiro, o Rio Grande do Sul chegou à média de 17,3 mil infecções diárias, recorde da pandemia. A partir dali, perdeu força, a despeito de um leve repique – atualmente, a média é de 12,5 mil casos diários, queda de 28,5% desde 28 de janeiro. 

A média de hospitalizações por caso grave de coronavírus em leitos clínicos atingiu um pico de 1.350 pacientes em 6 de fevereiro – momento a partir do qual há uma queda contínua. Nesta terça-feira (15), a média é de 1.166 internados, redução de 13,6% desde então. 

A ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), cuja tendência demora a ser alterada em função do tempo transcorrido entre infecção e agravamento, caminha para estabilidade, apesar do pouco tempo de platô. Após um pico de 576 pacientes em média com caso gravíssimo de coronavírus em 10 de fevereiro, nesta terça-feira, cinco dias depois, são 572. 

Por fim, a média de vítimas da covid-19 chegou a um pico de 48,7 mortes diárias há menos de uma semana, a partir de quando há queda suave, chegando a 37,6 mortes por dia – ainda é cedo para cravar tendência de diminuição, segundo analistas. 

Se, por ventura, este de fato tiver sido o pico de mortes causadas pela Ômicron, terá sido 84% abaixo do momento mais letal da pandemia de covid-19 no Rio Grande do Sul, quando, no fim de março de 2021, o Estado chegou a uma média de 304 vítimas diárias. Hoje, 74% dos gaúchos estão vacinados e 28,5% receberam a dose de reforço.

Se países como França, Austrália, Reino Unido e Canadá levaram de quatro a seis semanas para chegar ao ápice de casos de Ômicron, como mostrou GZH, o Rio Grande do Sul levou cerca de quatro semanas, diz a epidemiologista Suzi Camey, integrante do Comitê Científico do Palácio Piratini. 

Ela entende que os alertas enviados pelo governo do Estado a municípios e população alteraram o comportamento de parcela dos gaúchos, o que contribuiu para abreviar o pico para antes de seis semanas, como visto em algumas nações.

— A curva realmente está caindo, há sinais claros de queda nos últimos dias. Em hospitalizações, cai há uma semana. A curva de casos parece que começou a cair, temos risco de atraso, mas parece realmente haver certa queda. Óbitos precisamos de mais dias para confirmar se realmente há queda. O grande problema são os níveis em que a gente se encontra, ainda muito altos — afirma. 

O professor Álvaro Krüger Ramos, do Departamento de Matemática Pura e Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e analista das estatísticas sobre covid-19, sintetiza o cenário: 

— Estamos com média de casos 50% superior ao auge da Delta: em 10 de março de 2021, eram quase 8 mil casos por dia. Agora, estamos com mais de 12 mil casos por dia depois de ter chegado a quase 18 mil. No ano passado, quando não havia vacinação, a gente considerava que transmissão alta, com risco de colapso do sistema de saúde, era acima de 4 mil casos por dia. Melhorou, mas está alto. 

Carnaval e volta às aulas

A realidade de nações europeias nas quais a onda de Ômicron está se tornando página do passado indica que há duas possibilidades para o Rio Grande do Sul nas próximas semanas. 

A primeira é o cenário de países como o Reino Unido, que atingiu um ápice de casos e, posteriormente, viu queda sustentada. A segunda opção é o cenário da Áustria, que chegou a um pico, testemunhou queda, porém o relaxamento da população levou a um ápice pior dias depois, como mostram os gráficos abaixo:

Para os dois especialistas entrevistados pela reportagem, o Rio Grande do Sul (e o Brasil como um todo) deve vivenciar piora devido ao Carnaval e a volta às aulas presenciais, mas sem retornar ao ápice desta onda. Em outras palavras, o pior pode já ter passado, mas um cenário de alívio e segurança deve demorar mais algumas semanas para ser atingido. 

Após chegar à redução de novos casos de covid-19, o Reino Unido precisou de 10 dias para começar a identificar diminuição no número de óbitos. Mas foi apenas um mês depois do ápice que voltou ao patamar de mortes registrado antes da onda de Ômicron.

Se a tendência atual fosse mantida, um cenário seguro seria alcançado no Rio Grande do Sul em março, mas a volta às aulas com baixa cobertura vacinal de crianças e as aglomerações de Carnaval devem adiar para abril um cenário de estatísticas próximas às de dezembro, reflete a epidemiologista Suzi Camey, do Comitê Científico do governo do Estado. 

Parte das escolas da educação básica retornou à presencialidade, mas 425 mil alunos são esperados até a próxima segunda-feira (21). A adesão de crianças de cinco a 11 anos à vacina contra a covid-19 está baixa, a despeito de médicos pediatras e infectologistas assegurarem a segurança dos imunizantes. 

Quanto ao Carnaval, diversas prefeituras cancelaram ou adiaram as festividades públicas, como Porto Alegre, que postergou o desfile das escolas de samba para maio. Mas analistas se preocupam com festas que serão mantidas em boates, clubes e mesmo entre familiares e amigos.

Novo pico em fevereiro é possível?

Questionada se o Rio Grande do Sul pode vivenciar em fevereiro pico superior a janeiro, como o ocorreu na Áustria, Suzi Camey classifica como "pouco provável" devido ao grande número de gaúchos infectados nesta onda. Oficialmente, 566,2 mil gaúchos se contaminaram nesta onda, mas se estima que, devido à baixa oferta de testes, para cada pessoa com coronavírus haja de duas a três não diagnosticadas. 

— Acho pouco provável um pico pior do que janeiro. Nossa maior diferença em relação à Áustria é que, aqui, as medidas para conter circulação foram muito poucas, então muita gente foi infectada, o que fornece imunidade por algum tempo, apesar de haver casos de reinfecção por Ômicron. Mesmo com grande impacto em casos e hospitalizações, devemos ficar com números semelhantes ao pior momento de janeiro. A gente vai conseguir enxergar se a curva está caindo na primeira quinzena de março. Provavelmente, precisaremos entrar em abril para ver números baixos como os de dezembro — reflete a epidemiologista. 

O matemático Álvaro Krüger Ramos também entende que uma eventual piora por conta do Carnaval não ultrapasse o pico já registrado desta onda. 

— Quem mais aproveita o Carnaval é a população de 15 a 29 anos, que não chega a 80% com esquema vacinal completo. Coloca uma festa com 100 pessoas: destas, 20 não se vacinaram. É de se esperar que haja piora na curva, mas não acho que voltemos para o pico que já tivemos. Só em janeiro, mais de 500 mil pessoas se contaminaram oficialmente, então vamos estimar que pelo menos 2 milhões de pessoas pegaram Ômicron, quase 20% da população. Embora haja aumento, duvido que seja tão grande quanto o anterior (Natal e Ano-Novo) — diz o professor da UFRGS.


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