Especialistas analisam
Como a Europa, Brasil deve enfrentar nova onda de covid-19, mas com impacto menor em hospitalizações e mortes
Queda de restrições e avanço de subvariante da Ômicron devem provocar crescimento em novos casos
A nova onda de casos de covid-19 vivenciada na Europa deve ocorrer também no Brasil, afirmam analistas entrevistados por GZH. A expectativa é de que haja aumento de infecções, mas impacto menor em hospitalizações e mortes, graças à maior cobertura vacinal.
A avaliação ocorre com base na experiência de ondas anteriores - que surgiram antes no Velho Continente e chegaram ao Brasil entre um e dois meses depois - e o avanço da BA.2, a subvariante da Ômicron cerca de 1,5 vezes mais transmissível. A cepa começa a dominar nações europeias e deve chegar ao Brasil.
— (Na nova onda europeia) há flexibilizações e variante transmissível, a BA.2. No Brasil, cerca de 30% das pessoas não tomaram duas doses e apenas 30% tomaram três. Tudo isso aumenta a probabilidade de ter nova onda. O Reino Unido está agora com 100 a 150 mortes por dia. Se transpormos isso para o Brasil, seriam de 300 a 500 mortes por dia — afirma o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise.
A alta cobertura vacinal no Brasil deve barrar o grande crescimento de casos graves, mas eventual aumento de hospitalizações e óbitos deve ocorrer, concentrado em não vacinados ou indivíduos sem a terceira dose. Hoje, o Brasil possui 74% da população com duas doses e 34% com o reforço - o primeiro índice é considerado alto e o segundo, baixo.
Para Pedro Hallal, professor de Epidemiologia na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a combinação de alta cobertura vacinal de duas doses e grande número de pessoas já infectadas pode preservar o Brasil de nova onda com grande impacto.
– A combinação desses dois fatores pode fazer com que, no Brasil, a nova onda não seja tão grave como na Europa, especialmente em número de óbitos. A tendência é de que novas ondas sejam cada vez menos fortes, pelo menos em gravidade, não em capacidade de infecção – afirma Hallal.
Para a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), o Brasil deveria definir indicadores a serem atingidos para eventualmente voltar a exigir o uso de máscaras, medida vista como essencial, em ambientes fechados, para controle da transmissão.
– Nos países com piora, aumenta a internação, principalmente entre idosos e pessoas com doenças imunossupressoras. Agora, a gente praticamente não tem medidas restritivas no Brasil, com a retirada da máscara. Podemos ter esse aumento de casos e possivelmente de internações, inclusive porque nos aproximamos do outono-inverno, quando temos mais doenças de transmissão respiratória – afirma Maciel.
A piora em países europeus reforça a lição de que é preciso ter cuidado na hora de flexibilizar restrições, afirma a médica Ligia Kerr, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
– É praticamente unanimidade entre médicos que flexibilizar máscaras em ambiente fechado não deveria ser feito. Depois de cinco meses da segunda dose, há queda importante dos anticorpos, o que facilita a disseminação da doença. É possível que a gente possa ter nova onda da BA.2, então é importante que brasileiros terminem o esquema de vacinação para evitar casos graves e óbitos. Não é porque a Ômicron é mais leve que ela não mata – diz Kerr.