De olho na saúde
No Dia Mundial do Rim, conheça formas de prevenção e iniciativas que lutam pelos direitos dos doentes renais
Inchaço, fraqueza, alterações na urina e palidez são alguns dos sinais para ficar em alerta
Eles são dois, têm forma de um grande grão de feijão e ficam na região lombar — esses são os rins. Marcado anualmente na segunda quinta-feira de março, o Dia Mundial do Rim ocorre hoje (10). Neste ano, a campanha feita por entidades representativas da área em torno da data tem como foco a educação sobre doenças renais.
— A doença renal é pouco conhecida pela população em geral, ela precisa de alguns gatilhos, algumas pistas que as pessoas têm de valorizar cedo na evolução para poder reconhecê-la em si ou em algum familiar — destaca o nefrologista e presidente da Sociedade Gaúcha de Nefrologia, Dirceu Reis da Silva.
Sintomas como inchaço, fraqueza, alterações na urina (aumento na frequência, presença de sangue ou espuma e desconforto ao urinar, por exemplo) e palidez podem indicar que algo não vai bem com os rins. Uma ajuda médica deve ser procurada. E o diagnóstico pode ser confirmado por meio de dois exames simples: de urina e de creatinina.
LEIA MAIS
ONG de incentivo a doações de órgãos e tecidos conquista novo prédio para pousada
Pacientes com problemas renais relatam falta de medicamento em farmácias do SUS em Porto Alegre
Um olhar feminino: conheça a rotina de enfermeira que trabalha cuidando da saúde das mulheres
Cuidados
A lista de enfermidades que podem prejudicar o funcionamento dos rins inclui hipertensão, diabetes, doenças decorrentes do consumo incorreto de anti-inflamatórios e doenças reumáticas. Outras surgem nos próprios rins, afetando sua função, como é o caso da nefrite, dos cistos renais, das infecções urinárias recorrentes e do cálculo renal. O que fazer, então, para prevenir esse tipo de problema?
O presidente da Sociedade Gaúcha de Nefrologia indica quatro cuidados básicos: fazer uma atividade física regular, expor-se ao sol por tempo adequado, beber uma quantidade suficiente de água e ter uma dieta apropriada, sem exagerar no sal.
Luta para reduzir a fila do transplante
Quando a fase da prevenção já foi ultrapassada e os rins não conseguem mais dar conta de suas funções, a diálise — em seus dois tipos, hemodiálise ou diálise peritoneal — se mostra uma alternativa. O transplante surge em paralelo, com os pacientes sendo avaliados para saber se têm condições de receber um órgão. Em janeiro de 2022, de acordo com a Secretaria da Saúde, 1.245 pessoas aguardavam por um rim no Estado. A fila é a maior na comparação com a procura por outros órgãos e por tecidos. E o motivo para isso é as pessoas conseguirem ficar mais tempo na espera:
— Porque tem a hemodiálise, que substitui a função renal, enquanto que, nos outros órgãos, não há nenhum aparelho que substitua a função, por exemplo, do coração, do pulmão, do fígado — esclarece a presidente da ONG Via Vida, Lucia Elbern.
A entidade busca reduzir a lista de espera por órgãos e tecidos no Estado, incentivando a doação e conscientizando sobre cuidados com a saúde. Neste Dia Mundial do Rim, a equipe distribuirá materiais informativos sobre o órgão, no Shopping Total. Em sua sede, a ONG oferece, ainda, uma casa de hospedagem a pessoas de baixa renda em pré e pós-transplante.
De Norte a Sul em busca de tratamento
Para o motorista Fábio Oliveira Barros, 41 anos, foram dois anos e oito meses na fila até que surgiu a possibilidade de uma doação dentro da própria família. Vindo de Rio Branco, no Acre, ele passou por uma cirurgia no último dia 22, na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Na ocasião, Fábio ganhou um novo rim, doado por sua irmã.
O transplante se tornou necessário após o diagnóstico de insuficiência renal em 2019. Fábio conta que, por não ter o procedimento em seu Estado, se transferiu à capital gaúcha, chegando em junho de 2021. E ele avisa:
— A partir do momento em que você vai para a máquina (de hemodiálise), você vai conhecendo pessoas e, no meio do caminho, você vê muitas perdendo.
O alerta sobre as dificuldades na trajetória de quem lida com uma doença renal é também feito pela confeiteira Cláudia Noeli da Rosa Rodrigues, 49 anos. Ela faz hemodiálise desde 2019 por conta de uma doença hereditária que descobriu em 2017.
— É muito triste tu depender desse tratamento, mexe com teu emocional, mexe com tua autoestima — conta.
Apesar disso, Cláudia tenta se manter ativa e atualmente preside a Associação Renal de Porto Alegre (Arpa). A entidade, hoje expandida para toda a cidade, foi criada em 1994 por um grupo de pacientes em hemodiálise na clínica Ser - Serviço de Doenças Renais, no bairro Vila Nova.
Além de doações de cestas básicas se necessário, a associação dá orientações e ajuda pacientes com doença renal crônica e acompanhantes a conseguirem isenção total na tarifa de ônibus de Porto Alegre. Como pontua o psicólogo da clínica Marcos Roberto dos Santos Viana, que auxilia em demandas da Arpa, isso permite que o transporte para diálise e consultas, por exemplo, não gere despesas.
Produção: Isadora Garcia