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Com alta cobertura vacinal, covid-19 perde força no RS; veja gráficos

Estado atingiu nesta semana marca de menos de cem internados com a doença em UTIs, patamar registrado somente no começo de 2020

08/04/2022 - 08h40min

Atualizada em: 08/04/2022 - 08h41min


Marcel Hartmann
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Aline Custódio
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Marcelo Casagrande / Agencia RBS
RS tem 78% da população com as duas doses da vacina contra a covid-19

Em meio à alta cobertura vacinal, a primeira semana de abril consolida uma tendência de queda da covid-19 no Rio Grande do Sul. Em um cenário no qual 78% da população tomou duas doses e quase 40% recebeu o reforço, o número de casos, hospitalizações e mortes segue caindo a despeito das flexibilizações, segundo estatísticas oficiais analisadas por GZH

Os números sugerem que o “novo normal” será marcado, ao menos nos próximos meses e sem levar em conta a possibilidade de surgimento de nova variante, por grande número de pessoas infectadas com coronavírus, porém proporcionalmente um índice reduzido de casos graves. As aglomerações de Carnaval e a volta às aulas presenciais não provocaram piora no quadro.

— Temos baixa incidência de casos e baixa procura na emergência e de CTI (leitos intensivos). Faz sentido termos mais permissividade para mais atividades. A população tem que avaliar seu risco individual. Se moro com alguém de alto risco, talvez seja melhor não ver essa pessoa depois de ir a um show. Se sou de médio risco, mas quero encontrar pessoas, talvez seja melhor encontrar ao ar livre. A vacinação ainda é fundamental, não temos taxa de pessoas com a dose de reforço tão alta quanto gostaríamos — diz Jeruza Neyeloff, médica epidemiologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. 

O mais simbólico indicador de melhora ocorreu na quarta-feira (6): o Estado registrou 99 pessoas com coronavírus em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), algo que não ocorria desde maio de 2020, quando grande parte dos gaúchos estava isolada em casa. Em nenhum momento de 2021 e 2022 houve tão poucas pessoas internadas com caso gravíssimo. Porto Alegre, sozinha, chegou a ter quase 1 mil internados com coronavírus em UTIs. 

Em leitos clínicos, onde ficam pacientes com casos graves, havia 233 hospitalizados, patamar próximo ao registrado no início de dezembro – mês “de ouro” da pandemia, quando o Rio Grande do Sul vivia estado de calma. No ápice da pandemia, eram quase 5,4 mil. 

Todavia, o crescimento no número de internados em leitos clínicos nos últimos dois dias acendeu o alerta de Suzy Camey, professora de Epidemiologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do Comitê Científico consultado pelo Palácio Piratini para o combate à covid-19. 

Países europeus registraram um segundo pico de Ômicron após as flexibilizações, o que mostra que nova piora é possível. Mas, como o número de casos no Rio Grande do Sul segue em tendência de queda, mesmo levando em conta a subnotificação, a suspeita do Comitê Científico é de que hospitais estejam registrando pacientes em atraso, o que geraria represamento artificial. 

— Estamos em um período de bastante melhora, quase todos os indicadores em queda. Me chamam atenção, nos últimos dias, as hospitalizações em leito clínico, que pararam de cair e parecem subir. A gente imaginava que isso fosse acontecer pela suspensão do uso de máscaras, mas não aconteceu. Como o número de casos segue em queda, nossa primeira suspeita é ver se não há atraso de registro em hospitais. Mas a tendência é de que a queda continue, não há notícia de nova variante, muita gente foi infectada na onda de Ômicron e a vacinação segue — afirma a epidemiologista.

O número de mortes pela doença em março caiu 44% em comparação a fevereiro. Ainda assim, o total de vítimas no mês passado é mais do que duas vezes superior ao número de dezembro, novembro, outubro e setembro de 2021.

Mas o cenário melhorou nesta primeira semana de abril: a média de mortes é a menor desde dezembro. Hoje, em média cinco pessoas morrem por coronavírus diariamente – na última semana do ano passado, eram sete. A reportagem analisou estatísticas por data de inclusão do óbito nos sistemas oficiais, indicador recomendado por especialistas.

O número de infecções por coronavírus também melhorou radicalmente em relação ao pico da Ômicron, mas, assim como as mortes, está em patamar alto, superior a dezembro, novembro, outubro e setembro do ano passado. 

Na última semana, em média quase 2,3 mil gaúchos foram oficialmente diagnosticados com coronavírus diariamente na última semana – no pico da Ômicron no Estado, eram mais de 17 mil pessoas infectadas por dia. 

Vale ressaltar que é difícil comparar o número de novas infecções em relação a outros momentos da pandemia por dois motivos: muitas pessoas tomaram três doses e manifestam nenhum ou poucos sintomas, portanto, não se sentem motivadas a testar; e a oferta de testes caseiros, vendidos em farmácia, facilita o acesso a exames, mas gera subnotificação. 

Especialistas reconhecem a grande melhora da pandemia, mas destacam que o Brasil deve ser cobrado a melhorar ainda mais os índices de cobertura vacinal, uma vez que há décadas é referência mundial em adesão.

No Rio Grande do Sul, 3,65 milhões de pessoas ainda não tomaram a segunda ou a terceira dose contra a covid-19, o equivalente a um terço da população. Se quase 40% da população gaúcha tomou a terceira dose, a adesão é de 84% no Chile, 42% na Argentina, 57% no Reino Unido e 64% na Itália. 

A baixa cobertura vacinal de crianças também preocupa: apenas 55% tomaram a primeira dose e 15%, a segunda. Enquanto isso, emergências pediátricas de Porto Alegre estão lotadas de pequenos com sintomas respiratórios, em meio à redução da oferta de leitos infantis na cidade.

— Um desafio óbvio é manter as pessoas vacinadas com todas as doses recomendadas. No momento, são três. Outro desafio é explicar que a gente pode aproveitar agora, em momento de menor gravidade, e que talvez precisemos de mais medidas no futuro. Me preocupa se as pessoas adotarão novas medidas de segurança, se for preciso — diz a médica Jeruza Neyeloff.

Importância da vacinação

A chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Tani Ranieri, destaca a queda dos números no Estado, mas considera necessário continuar monitorando a pandemia e resgatar a cobertura vacinal para cada faixa etária. Quanto aos dois dias de aumento no número de internados nos leitos clínicos, ela explica que é impossível fazer algum tipo de análise a partir de um dado isolado. Seria necessário avaliar uma série de indicadores para ter um panorama real do cenário. 

— À medida que se tem um número maior de leitos disponíveis, existe o olhar diferente por parte da assistência a esses pacientes em nível hospitalar. Se há leitos livres, acaba-se internando, por exemplo, pacientes com histórico de comorbidades associadas e pessoas com fator de risco associado à idade — justifica.  

Ela reforça a necessidade do esquema vacinal completo e a importância de os adultos acima de 18 anos tomarem as três doses. 

— O objetivo da vacina é reduzir a possibilidade da infecção, evitar complicações e óbito. Uma pessoa infectada, mas vacinada, reduz o período de transmissão desse agente e a frequência dessa transmissão. A vacinação aumenta a imunidade da população e traz  benefícios individuais e coletivos — alerta. 

A chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica comenta que o governo está trabalhando para reforçar a conscientização da população sobre os fatores de risco. Ela pede que as pessoas tenham comprometimento individual no sentido de cada um avaliar o seu próprio risco para se proteger do coronavírus, fazendo uso de máscara e evitando ambientes com aglomeração, além de resguardar as pessoas de seu convívio que tenham fatores de risco para a doença. 

— Uma nova variante surge de uma recombinação de variantes anteriores. E essas recombinações ocorrem, normalmente, quando há mais casos entre a população. Então, a Ômicron com a variante Delta, por exemplo, se recombinar e formar uma nova cepa. Quanto menos a população estiver protegida para reduzir a circulação do vírus, mais haverá chance para que essa situação ocorra. A vacina não impede a infecção, mas ela reduz. O Sars-Cov2 não vai ser eliminado do nosso meio, mas ele acabará se tornando endêmico, como ocorre com a influenza. Vamos continuar atentos porque a pandemia ainda não terminou — finaliza Tani. 


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