Direto da Redação
Diego Araujo: "O direito de sorrir"
Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano
Embora tenha acompanhado o DG desde sua fundação, estou mergulhado nos temas do jornal como editor-chefe desde 2018. E no dia a dia, uma das seções que mais me impressiona é a coluna “Meu Sonho é”. Ali, leitores falam de coisas que almejam, que gostariam e que não têm como alcançar.
O “Meu Sonho” tem me chamado a atenção por um pedido recorrente: próteses dentárias. Os leitores querem voltar a sorrir, precisam se apresentar bem em uma entrevista de emprego, têm vergonha de abrir a boca, gostariam de retomar a autoestima com dentes novos. Pessoas de várias idades, de todas as cidades da Região Metropolitana.
O tratamento odontológico em clínicas particulares é para uma parcela reduzida da população. E historicamente o SUS tem carência de dentistas.
Na edição de virada de ano do DG, pedimos a três leitores que contassem os sonhos que gostariam de realizar em 2022. Entre eles, o auxiliar de serviços gerais Gerson Fabiano Pacheco, 43 anos, relatou que desejava ter “dentes novos”.
Ex-dependente de drogas, ele perdeu a dentição usando crack. E passou a conviver com sérias limitações. Sem ter como mastigar, só consumia comidas pastosas e líquidas. Com sua história no jornal, Gerson foi “adotado” pela clínica Odonto Company, que realizou o seu desejo e entregou gratuitamente a prótese em março. Vida nova para o morador de Cachoeirinha.
Mas como resolver o problema de milhares de outros Gersons que sofrem por não ter dentes? Números da Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre revelam que, na Capital, obter uma prótese dentária pelo SUS exige entrar numa fila de quase 2 mil pessoas. E ter paciência para esperar 975 dias, ou seja, quase três anos. É preciso uma política pública que volte a atenção para esse problema e acabe com essa fila. São 2 mil pessoas envergonhadas de seus dentes. São 2 mil pessoas loucas para sorrir. Não podemos negar a eles esse direito.