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Em dois meses, déficit de vagas nas creches aumenta 74% em Porto Alegre e fila chega a 5,8 mil crianças

Entre fevereiro e abril deste ano, mais de 2,5 mil nomes entraram na fila em busca de uma escola

29/04/2022 - 08h49min

Atualizada em: 29/04/2022 - 08h49min


Laura Becker
Laura Becker
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Camila Hermes / Agencia RBS
Para tentar amenizar a situação, a Secretaria Municipal da Educação disponibilizará 569 novas vagas em escolas já credenciadas ao município

Pais que buscam uma vaga em creches ligadas ao município de Porto Alegre encontram uma fila que vem crescendo desde o início do ano de 2022. Conforme dados da Secretaria Municipal da Educação (Smed), entre fevereiro — quando foram retomadas as aulas totalmente presenciais — e o mês de abril, o déficit de vagas para estas instituições cresceu 74%.

No segundo mês do ano, 3.365 crianças com idade entre zero e três anos aguardavam para conseguir se matricular em uma escola. Agora, este mesmo grupo conta com 5.878 crianças na fila.

A estimativa da SMED era zerar a fila de espera para as creches neste ano. Para o ingresso na pré-escola, ainda há crianças que encontram alguma dificuldade de acesso, mas, segundo a pasta, isso não gera uma fila de espera.

A secretaria reconhece o problema, mas destaca que a falta de vagas nas creches já vem ocorrendo ao longo dos últimos anos e foi potencializada pela pandemia. A pasta não apontou os motivos para o aumento expressivo na fila neste período. Para tentar amenizar a situação, a Smed disponibilizará 569 novas vagas, em escolas já credenciadas junto ao município, entre os meses de maio e agosto.

Além disso, a pasta afirma que mantém aberto durante todo um ano um edital para que a prefeitura possa comprar vagas em escolas particulares. Até agora, duas instituições privadas estão aptas para receber novos alunos.

— Precisamos que mais escolas privadas participem deste edital. Para isso, estamos fazendo campanhas de conscientização junto ao sindicato. Além disso, não descartamos a possibilidade de construir quatro novas escolas, já temos um mapeamento das regiões onde há grandes contingentes de crianças — revelou a secretaria da educação, Sonia Maria Oliveira da Rosa, que assumiu o cargo neste ano.

Questionada, a Smed não divulgou os dados do mapeamento das regiões onde há mais crianças esperando por vagas em creches.

Procurado por GZH, o Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS) afirmou que as escolas particulares têm interesse na compra de vagas pela SMED. No entanto, a entidade destaca que é preciso ajustar os valores que estão sendo ofertados pelo município, para que se tornem mais atrativos para as instituições de ensino.

Na próxima semana, o Sinepe tem agendada uma reunião com a secretaria para tratar do assunto.

Em um ano, parceria com Defensoria Pública pouco evoluiu

A questão da falta de vagas nas creches vem sendo tema de reuniões entre a Secretaria Municipal de Educação e a Defensoria Pública do Estado em Porto Alegre desde abril do ano passado. Em setembro, havia a expectativa da realização de um termo de cooperação para agilizar o atendimento sem que houvesse necessidade de levar cada um dos casos à Justiça.

No entanto, os encontros pouco evoluíram. Com a mudança na gestão da SMED, os termos que haviam sido até então definidos foram recusados e as negociações voltaram à estaca zero.

Neste meio tempo, a Defensoria viu a demanda dos pais em busca de ajuda para conseguir uma matrícula saltar. Nos primeiros quatro meses de 2022, o órgão registrou uma procura de 1,4 mil pessoas por dia, 75% maior do que o observado em anos anteriores – quando a média de atendimentos era 800 agendamentos.

Recentemente, em mais uma reunião, a secretaria apresentou algumas medidas que já estão sendo colocadas em prática, como a abertura de novas vagas em instituições credenciadas ao município e do edital para que as escolas particulares demonstrem intenção na venda das vagas.

Conforme a Defensoria, o argumento apresentado pela secretaria para a negativa foi justamente o receio de que o acordo pudesse interferir no processo já aberto com as creches privadas.

A defensora pública e dirigente do Núcleo de Defesa da Criança e do Adolescente (Nudeca) Andreia Paz Rodrigues afirma, ainda, que Smed se comprometeu a melhorar o fluxo de comunicação entre os órgãos. A Defensoria vinha enfrentando dificuldades para obter retorno de questionamentos e até problemas para que os pais conseguissem a negativa da vaga junto ao município.

— Até agora, não tivemos um retorno eficiente da secretaria. Recebemos a oferta das 500 vagas, mas é um número pequeno. Se pegarmos a demanda que a própria pasta afirma ter, não chega a 10% do total de intenções — ressaltou Rodrigues.

Espera de mais de um ano

Enquanto a fila de espera por uma vaga nas creches da Capital cresce, muitas famílias veem a renda diminuir, pois precisam optar entre trabalhar ou cuidar dos filhos. É o caso de Evelyn Bruna Feijó Alves, de 23 anos, mãe de uma menina, de um ano e sete meses.

Autônoma, Evelyn vinha realizando faxinas desde o nascimento da menina e, sem ter com quem deixar a criança, viu as oportunidades diminuírem. Ela tenta colocar a bebê em uma creche desde 2021 e, até agora, não obteve sucesso.

— Eu moro de aluguel, então, tenho que trabalhar. Só que, com ela maiorzinha, é mais difícil. Ela mexe nas coisas, vira o balde de água onde estou limpando. Teve muitas pessoas que não me chamaram mais por causa dela. Tem pessoas que entendem, e tem pessoas que não entendem — desabafa.

No ano passado, Evelyn buscou auxílio da Defensoria para conseguir matricular a filha em alguma creche, mas permaneceu na fila de espera. Durante o período, ela chegou a receber o retorno de uma vaga por parte do Conselho Tutelar.

No entanto, para conseguir chegar na escola, seria preciso pegar dois ônibus ou apenas um e caminhar mais 30 minutos por dentro do bairro Vila Jardim. Moradora do bairro Jardim Carvalho, Evelyn teria que percorrer quase seis quilômetros para chegar até a escola - quatro a mais que o limite imposto por uma decisão do Tribunal de Justiça.

— Para mim se torna mais difícil. Se eu não tenho dinheiro nem para me manter, imagina para pagar duas passagens. E seriam duas para ir e duas para voltar, todos os dias. Não tinha como aceitar — afirma a mãe da menina.

Assim como a maioria dos pais e mães, Evelyn aguarda o auxílio da Defensoria para conseguir uma vaga em uma creche de Porto Alegre. Conforme o órgão, ainda é necessário que ela envie alguns documentos referentes ao ano letivo de 2022 – a parte mais longa do processo – para que o pedido tenha andamento.

 *Com a colaboração de Rochane Carvalho 


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