Direto da Redação
Leticia Mendes: "Ser mulher"
Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano
Nasci em uma família de muitas mulheres. Cresci com a minha mãe madrugando para trabalhar em uma chácara, na área rural de Rio Pardo. Cuidava dos animais, tirava leite, plantava e colhia. Mesmo quando chovia forte, ela saía de casa do mesmo jeito. Calçava botas pretas de borracha e voltava encharcada. Ainda preparava o café e colocava a mesa, sempre com pães, queijos, geleias, tudo feito em casa.
Me mandava para a escola, mesmo quando eu queria ficar na cama quentinha. Repetia – assim como meu pai – que o estudo era a herança que iam nos deixar. Que deveria ser independente, e ter minha vida. E foi isso que me guiou ao longo do meu caminho.
Nos últimos dias, tenho conversado com tantas mulheres e sempre chegamos no mesmo tema. Em como mulheres acumulam funções, deveres, que decidiram que são nossos. E nem falo sobre tarefas domésticas. Creio que uma parcela considerável já entendeu que independe de ser homem ou mulher para ligar uma torneira e lavar um prato. Mas vai além disso. As mulheres ainda seguem sendo muitas vezes as responsáveis por pensar no todo, na família, por abrir mão, por levarem a culpa.
Por trás do homem brilhante muitas vezes ainda existe sim uma mulher empurrando um carrinho, embalando os filhos, organizando a vida, dormindo pouco e mal. Se preocupando em ensinar ao filho sobre como ser independente porque perdeu a mãe muito cedo e teme que ele passe pelo mesmo. Se culpando porque não consegue ser o melhor que crê que deve ser. Equilibrando a vida de mãe, mulher, profissional, amiga, e tentando não enlouquecer no meio disso.
Para nós mulheres nada disso é novo. Então por que escrever sobre isso?
Porque se você olhar para o lado vai perceber que tem uma mulher sobrecarregada. Uma mulher que precisa de apoio. Que está implorando em silêncio para ser amparada, enquanto aguenta firme. Que está cansada de colocar o cropped, a camiseta, a camisa, e reagir todos dias. Então seja amparo, seja gentil, seja um pijama quentinho, uma palavra de afeto, seja apoio e estímulo. E, acima de tudo, não tenha medo de onde essa mulher pode chegar.