Papo Reto
Manoel Soares: "Abraço de Comadres"
Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados
Minha foto com este trio não tem a ver com o BBB, mas com a mensagem que elas levaram para o Brasil nestes três meses. Uma professora que, entre uma treta e outra, explicava como as aulas exigiam que visse em cada aluno uma criança de sua família. Ela ensinou ao país que os professores são mais humanos que os humanos comuns, e por isso dão aula.
A outra ousou ignorar as manchas que ninguém ignora e fez com que sua voz fosse além da estética. Ela se entregou como quem não teria amanhã, arrancou de cada mancha do corpo a coragem de amar que às vezes nos falta. Cada lágrima, cada incompreensão e baldada na cabeça dizia para as mulheres negras que assistiam: você não está só, eu também sofro por ser como você.
A terceira comadre exigiu ser comadre e contrariou o olhar viciado que naturaliza o preconceito. Enfiar o seu ELA garganta abaixo de quem já fez da palavra travesti xingamento, fez o olho brasileiro avançar alguns anos na capacidade de entender o afeto próprio de uma trans. Nos braços delas, eu me senti protegido entre os meus. Com elas, o abraço virou verbo, o verbo amar.