Papo Reto
Manoel Soares: "Dor silenciosa"
Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados
Agora que as rígidas normas de prevenção aplicadas na pandemia estão ficando mais suaves, estamos deparando com os efeitos colaterais do caos que vivemos. Em sua maior parte, eles são silenciosos, ocorrem dentro de nossa casa e às vezes dentro de nossas cabeças.
Sabe aquela sensação ruim de estar em um ônibus cheio, ou de quando uma pessoa se aproxima muito na fila do mercado? Pois é, isso pode ser a ponta de uma fobia de pessoas ou até síndrome do pânico.
O consumo de álcool aumentou de forma agressiva, isso para não falar das drogas ilícitas. O medo de sair de casa, as crises de choro do nada, falta de paciência que resulta em agressões a crianças e mulheres dentro de casa acabaram se tornando algo comum. Como todos estamos doentes da mente e do coração, achamos normal tudo isso, mas não é.
Muitos, nas quebradas, acham que ir para psicóloga ou psiquiatra é motivo de vergonha. É exatamente desses argumentos que as doenças mentais e emocionais se alimentam. Nos fazem acreditar que o estado de sofrimento mental é frescura que passa com um bom samba, mas, na verdade, as alegrias da vida só mascaram as causas reais que depois viram úlceras e, em alguns casos, cânceres.
Cuidar da mente é mais importante do que cuidar do corpo, um corpo sarado com uma mente doente é como uma carro quebrado com pintura nova, só serve para foto.
A dor mental e emocional se manifesta através do silêncio, da extrema euforia, da raiva, do desprendimento ou da dedicação exclusiva a outros. Se conhecer alguém que tem atitudes que às vezes são extremamente inexplicáveis, cogite a possibilidade de dor e se coloque à disposição para ajudar com calma e afeto. Dores emocionais às vezes têm como consequência causar a mesma dor nos outros. Importante ficarmos atentos.