Direto da Redação
Michele Vaz Pradella: "Eles venceram, e o sinal está fechado pra nós?"
Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano
No mesmo ano em que o Diário Gaúcho nasceu, eu nasci como cidadã brasileira. Aos 16 anos recém-completados, na época, me sentia orgulhosa de poder votar pela primeira vez, participar da tal “festa da democracia”.
Eu sabia da responsabilidade. A geração anterior, dos nossos pais, não teve esse direito de escolha, já que foram adolescentes em plena Ditadura Militar.
A democracia brasileira era tão adolescente quanto eu. Naquele meu primeiro pleito, apenas dois presidentes haviam sido eleitos por voto direto. Era pouco tempo de escolhas livres, de um país sem amarras.
Corta para 2022. Às vésperas de uma nova eleição, observo as campanhas de incentivo aos jovens de 16 a 18 anos, cuja maioria ainda não tirou o Título de Eleitor.
Gurizada de hoje, eu entendo vocês. É difícil acreditar nos políticos – e na política – deste nosso país. Vocês cresceram em meio a denúncias de corrupção, dólares na cueca, impeachment, prisões e acusações envolvendo os principais escalões do governo. Se é difícil para a minha geração, imagina vocês, que pouco têm de bom para lembrar sobre política. Entendo, e também sinto vergonha.
Mas quando bate a desesperança, lembro do meu avô.
Desobrigado de votar aos 70 anos, ele continuou marcando presença em sua seção eleitoral a cada dois anos, sem reclamar. Enfrentava fila, sol, calor, subia vários lances de escada, mas fazia questão de marcar os números dos seus candidatos.
Quando questionei, “mas vô, tu não precisas mais votar”, ele respondeu, serenamente: “Preciso sim, para poder reclamar meus direitos para as pessoas certas”.
E, assim, por mais que as notícias recentes nos tirem um pouco a esperança em dias melhores, busco resgatar um pouco da adolescente sonhadora que eu fui, me inspiro nos ensinamentos patrióticos do meu avô e tento, a cada novo pleito, recuperar a fé em dias melhores.