Inflação nas gôndolas
Vilão da inflação: preço do quilo do tomate varia 44% em diferentes pontos de venda de Porto Alegre
Pesquisa ajuda consumidores a encontrar alimentos mais baratos e reduzir impacto da alta no valor da cesta básica
A tradicional saladinha de tomate está mais amarga — e não é por conta do vinagre. Com a maior inflação dos últimos 12 meses, o tomate se tornou um dos vilões do aumento do custo da cesta básica em Porto Alegre. No período de um ano, o produto teve reajuste de 80,86%.
Em pesquisa realizada por GZH na última quinta-feira (7), o quilo do tomate foi encontrado a R$ 13,90 em um hipermercado da região central da Capital. Já em um supermercado localizado na Vila Cruzeiro, na zona sul, um pacote de um quilo saía por R$ 9,49 — uma variação de 44,6%. Levando em conta os valores encontrados nos outros três mercados visitados pela reportagem, o porto-alegrense paga, em média, R$ 11,55 pelo quilo do produto.
De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Rio Grande do Sul (Dieese), entre os 13 itens analisados pela entidade, cinco lideram o ranking dos mais inflacionados nos últimos 12 meses. Além do tomate, estão no topo da lista o café, o açúcar, a batata branca e o leite. Só em 2022, a batata teve incremento de 30,64% no valor e o café, 12,14%. No acumulado de um ano, o café registra 64,69% de aumento; o açúcar, 49,50%; a batata, 23,38%; e o leite, 19,41%.
Para a dona de casa Pâmela Milene Rublesque da Silva, 26 anos, a palavra da vez é economizar:
— Tu entra com R$ 200 e sai com uma sacolinha porque não dá para comprar nada. É tudo caro, caro mesmo — reclama.
Acompanhada do serralheiro Michel de Olindo Fraga, 40 anos, Pâmela fazia as contas para conseguir completar a lista de compras.
— Não podemos levar o que nós queríamos e tivemos que reduzir, né? Porções que antes eram de três, quatro pacotes, agora é um, dois, no máximo. Nada vai fora, cozinhamos, botamos em potinhos, congelamos, colocamos no micro e come de novo — conta Michel.
A mesma dificuldade é compartilhada por Maria Silveira Gonçalves, 60 anos, que ficou desempregada ao longo da pandemia e precisa garantir comida para o filho com necessidades especiais.
— A gente compra o básico do básico. Só comida, mais nada. Está muito difícil. Tem que ir no mercado aonde está barato. Mas a passagem de ônibus é cara, né? Nem sempre conseguimos — lamenta.
Conforme levantamento do Dieese, a cesta básica de Porto Alegre é a quarta mais cara do país – perdendo apenas para São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis. Na capital gaúcha, o consumidor desembolsou R$ 734,28 em produtos básicos de alimentação no mês de março — R$ 110 a mais que em março do ano passado. Só nos três primeiros meses de 2022, a cesta acumula alta de 7,52%.
Diante desses valores, a aposentada Leci Barros, 65 anos, não esconde o receio ao entrar no supermercado:
— Estou comprando só o básico, o básico do básico. Não sei como é que a gente vai se virar, está bem difícil — desabafa.
Atacarejo pode ser opção
Para a dona de casa Adriana Martins, 43 anos, o atacarejo virou uma boa opção para economizar na hora do racho.
— Tem que procurar preço, não adianta. Tu vai numa promoção aqui, outra ali. Está tudo na hora da morte. Um azeite está R$ 10! Imagina, muito caro! E tu precisa do azeite para fazer o alimento, né? Agora é frango, um picadinho básico, uma linguicinha e assim a gente vai levando, né? — comenta.
Muitos ainda têm a ideia de que, para comprar em atacarejos, é necessário adquirir grandes quantidades ou comprar com CNPJ. No entanto, isso não é verdade. O consumidor pode comprar por unidade. E, muitas vezes, as promoções já valem a partir de poucos itens, como três ou mais unidades ou fardos.
Os motivos dos aumentos
Conforme o Dieese, entre os motivos para os aumentos dos alimentos está a quebra de safra, a alta nos preços dos combustíveis e energia elétrica até a guerra no leste europeu. No caso do tomate, por exemplo, a elevação se dá pelo menor volume de frutos ofertados, com a aproximação do final da safra de verão.
No leite integral, o aumento nos custos da produção, a diminuição nos estoques e a disputa por matéria-prima entre as indústrias pressionam os preços.
Para quem gosta de café com açúcar, a inflação deixa esse momento de prazer cada vez mais pesado. A entressafra da cana de açúcar reduziu a oferta e elevou os valores no varejo em março, mas o aumento já não é de hoje. Nos últimos 12 meses, o produto acumula alta de 49,50%. Mas o café é o grande vilão da dupla: 64,69% de elevação no período de um ano.
Produtos que lideram o ranking da inflação em Porto Alegre
- Tomate (+80,86%)
- Café (+64,69%)
- Açúcar (+49,50%)
- Batata (+23,38%)
- Leite (+19,41%)
Fonte: Dieese/RS
Pesquisa de preços dos cinco alimentos com maior inflação nos últimos 12 meses
Tomate longa vida (quilo)
- Hipermercado 1 – R$ 13,90
- Hipermercado 2 – R$ 11,50
- Supermercado 1 – R$ 9,49
- Supermercado 2 – R$ 12,89
- Atacarejo – R$ 9,99
Café tradicional 500g
- Hipermercado 1 – R$ 14,98
- Hipermercado 2 – R$ 13,99
- Supermercado 1 – R$ 15,49
- Supermercado 2 – R$ 15,98
- Atacarejo – R$ 14,90
Açúcar refinado 1kg
- Hipermercado 1 – R$ 4,25
- Hipermercado 2 – R$ 4,09
- Supermercado 1 – R$ 4,29
- Supermercado 2 – R$ 4,29
- Atacarejo – R$ 3,89
Batata branca (quilo)
- Hipermercado 1 – R$ 6,49
- Hipermercado 2 – R$ 5,49
- Supermercado 1 – R$ 4,49
- Supermercado 2 – R$ 5,49
- Atacarejo – R$ 5,79
Leite longa vida 1 litro
- Hipermercado 1 – R$ 4,15
- Hipermercado 2 – R$ 3,99
- Supermercado 1 – R$ 4,19
- Supermercado 2 – R$ 4,19
- Atacarejo – R$ 4,29
*Pesquisa realizada pela reportagem de GZH no dia 7 de abril em mercados de diferentes tamanhos e bairros da Capital