Coluna da Maga
Magali Moraes: cicatrizes falam
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Já parou pra pensar que as cicatrizes que carregamos no corpo são como um livro narrando as nossas histórias? Nem todas com final feliz. Algumas, melhor nem lembrar. Outras, nem sabemos mais o que aconteceu. É um mapa de vivências, marcando ano após ano tudo que aprontamos e tudo que a vida aprontou com a gente. Roupas podem até cobrir, mas as cicatrizes continuam no seu devido lugar. Não quer olhar, não olha. Quer tentar apagar, o laser ajuda. Da memória, quase não sai.
O tempo passa, a pele regenera e ameniza o estrago. Se as cicatrizes pudessem falar, elas contariam detalhes dos nossos tombos de infância. Das brincadeiras que terminaram em choro e pronto-socorro. Dos bifes arrancados de joelhos e canelas. Das marcas de aventuras e descobertas. Os cortes que antes eram gritantes e exagerados vão ficando quietinhos e discretos. Fora os sustos da vida adulta, as cirurgias que marcam até a alma, as quedas e machucados inesperados.
Insignificantes
Além das cicatrizes escandalosas (que todo mundo olha e pergunta quando, onde, como e por que), tem aqueles cortezinhos do dia a dia. São os insignificantes, que ninguém repara, e costumam incomodar bastante. Tipo o corte de papel fininho e ardido. Desconfio que os papéis levam a culpa por nada, a gente se corta assim até quando passa longe deles. Já os espinhos de folhagens, não resta dúvida. Idem os arranhões de gatos (desses eu não sofro) e os de plantas (sempre).
O que dizer das grandes cicatrizes que criam uma baita expectativa e suas histórias deixam a desejar? Um tombinho de bicicleta na adolescência me rendeu uma cicatriz que seria preferível inventar outro motivo. E por causa de um tombo bobo há poucos anos (na verdade uma escorregada), ganhei uma cicatriz que mais parece de operação de joelho. Pior que sua história foi de um feriadão tranquilo. Seria preferível que as cicatrizes soubessem rir. Melhor ouvir gargalhadas do que causos de dor.