Papo Reto
Manoel Soares: "A cura do roxo"
Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados
O Brasil parou na última terça-feira para ver as imagens de uma frentista de Porto Alegre que foi assediada e reagiu dando socos no agressor. Estamos em um estágio de selvageria masculina que obriga as mulheres a agirem como animais e partirem para cima com o que estiver mais perto. Não vejo o ato dela como excesso ou agressividade, mas como legítima defesa diante de abusos constantes de uma vida inteira.
Lembro de ter entrevistado, enquanto estava na RBS TV, uma mulher que teve mãos e pés decepados pelo monstro que se dizia companheiro dela. Fui o primeiro a entrevistá-la depois do fato e vi em seus olhos que tinha medo de falar algo que deixasse ele mais agressivo quando saísse da cadeia.
Essa realidade quase mudou quando saiu a lei Maria da Penha, mas as falhas de um sistema machista onde os homens se protegem fizeram com que a lei fosse colocada em segundo plano. Tomara que os homens tomem consciência, antes que as mulheres comecem a puxar gatilhos para se defender. Não faço apologia ao crime cometido por mulheres, mas a forma como tratamos os homens que as agridem é um incentivo à violência praticada por eles.
Recomendo às mulheres cuidado na hora de reagir, conheço os instintos de homens covardes e sei que eles simplesmente matam, mas não quero que essa realidade seja impeditivo para que façam o que acreditam ser certo para sua segurança. Denúncia sempre é o caminho mais indicado, mas, na hora que o bicho pega, faça o que tiver que fazer, pois nem sempre palavras bonitas curam os roxos do seu rosto.