Papo Reto
Manoel Soares: "O dia seguinte"
Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados
Este sábado é um dia muito importante para os negros do Brasil. E a importância a que me refiro não é uma importância positiva. A abolição da escravatura, no dia 13 de maio de 1888, foi resultado da luta de muitas pessoas que buscavam uma vida mais digna para a comunidade negra.
Porém, a comemoração do dia 13 de maio, após a assinatura do documento pela Princesa Isabel, foi seguida de muita tristeza e dor. Digo isso porque no dia 14 de maio os negros libertos não tinham o que comer, não tinham onde dormir nem onde existir. Pouca gente sabe que, além de acabar com a escravidão, nomes como José do Patrocínio e Luiz Gama lutavam para que houvesse também terras dadas aos negros, pois assim teriam um ponto de partida – igual aos europeus que chegavam ao Brasil, que tinham de onde começar.
Essa liberdade parcial deu ao povo negro brasileiro uma posição de desvantagem diante dos demais pobres. O colono lutador gaúcho, pelo menos, tinha terra para plantar e começar a vida, o negro não. Essa decisão foi tomada em 1888 e impacta a vida dos negros até hoje. Quantas pessoas negras você conhece que são médicos? Talvez, conheça um ou outro, porém, o certo era que a mesma quantidade de médicos brancos que você conhece, fosse equivalente à de médicos negros, porque o Brasil tem metade da população negra.
Ninguém gosta de falar de racismo, os negros lembram que sofreram e os brancos lembram que fizeram sofrer. Esquecer essa parte da história não faz com que ela desapareça, só faz com que as pessoas sejam menos conscientes dos seus privilégios e das suas potências. 14 de maio é um dia a ser lembrado, a ser vivido. Tão importante como a liberdade é a dignidade.