Coluna da Maga
Magali Moraes: e se fosse você?
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
E se fosse a sua esposa ali, parindo o filho de vocês? Tão anestesiada, completamente sedada, que nem conseguiria ouvir o choro do nenê e segurá-lo? É isso que acontece numa cesárea normal – e não a paciente estar dopada e ter o rosto coberto de esperma porque o anestesista aproveitou a cortina de pano que tapa a visão da barriga aberta pra esfregar seu pênis na boca de uma mulher desacordada. Chocante escrito assim, né? Mais chocante é a certeza que ele tinha de não ser pego.
Mas foi porque as enfermeiras tiveram coragem de filmar. O nome disso é estupro. Nenhum homem na sala percebeu a movimentação corporal do anestesista? Masturbação, sabe-se bem, provoca movimentos. Equipes costumam operar juntas, esse não foi um caso isolado. Outras pacientes já denunciaram o pilantra. E se fosse você? Sua irmã, prima, amiga, mãe, tia? Não dá mais pra confiar nem em médico. E se o anestesista fosse seu amigo de infância, colega, irmão, pai? Acontece no RJ e por aí.
Cretino
Anote o nome, vai que a justiça falha e o cara segue operando: Giovanni Quintella Bezerra. Além de já ter vários processos por erro médico, esse cretino é o exemplo perfeito da cultura do estupro. Ele não é monstro, não. É o resultado de séculos de poder masculino sobre o corpo feminino. Cultura do estupro é sobre a impunidade que ele achava que tinha (e teve até agora). É dizer que a mulher pede pra ser estuprada quando usa roupa curta. Agora também vale camisolão de hospital?
A cultura do estupro está em qualquer atitude machista, seja na piadinha na roda de amigos, na foto da gostosa pelada no grupo do Zap, na encoxada dentro do ônibus, na violência doméstica, no assédio no trabalho, na puta pra comer e na certinha pra casar, em todos os desrespeitos que uma mulher sofre ao longo da vida. Eduque seus filhos pra não serem homens do tempo das cavernas. Se reeduque, não deixe passar comentários machistas. O Dr. Estupro? Eu castraria feito bicho.