Coluna da Maga
Magali Moraes: tá na mesa
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Você também fica de mau humor quando está com fome? Eu pareço outra pessoa, irritada e incomodada. Às vezes, a gente só se dá conta depois de comer que esse incômodo todo era a barriga roncando. Coisa boa sentar e se alimentar bem pra recuperar a paz. Agora imagina seguir faminto porque não tem comida. O Brasil voltou a fazer parte do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU). É quando não se tem certeza se vai conseguir fazer a próxima refeição. Nenhuma, aliás.
Tá na mesa a fome crônica e a insegurança alimentar, um termo que revolta o estômago. Falta acesso aos alimentos, faltam nutrientes, falta a quantidade certa pra saciar, falta saúde depois. Os antigos já diziam: saco vazio não para em pé. Como faz pra alimentar a família, os agregados? E as crianças, com o preço do leite? Hoje em dia, estar acima do peso chega a ser ostentação. Desigualdade de corpos, de panelas abastecidas, de carrinhos no supermercado, daquilo que vai pra boca e pro lixo.
Pelanca
Lixo virou comida. O que antes era descartado, doado ou usado somente em ração de animais agora é vendido como alimento pro bicho homem. Pele e pés de galinha. Pelanca de carne. Carcaça de peixe. Soro de leite. Mistura láctea. Restos de frios. Feijão bandinha. Arroz fora do tipo. Que seja quebrado e com defeitos, que dê sustância. Sabe as ofertas de produtos quase vencendo? Elas são o novo luxo. Se não tem acesso à cesta básica, azar do prazo de validade. É comida que alimenta.
A situação anda tão triste que já tem gente fazendo piada. Esses dias vi na internet uma foto de bandeja de isopor (aquelas onde se vende carne) com ar embalado. Na etiqueta de preço, "cheiro de carne". Ah se a moda pega. Não adianta ensinar receita pra fazer com pelanca e carcaça. Tem que ser prioridade ter comida decente na mesa. Nossos restos de almoço sempre foram o jantar de alguém. Ainda mais agora. Não desperdice alimentos, muito menos o seu voto nas eleições.