Notícias



Leitor especial

Na memória de Firmino, o DG 

Leitor do jornal desde os anos 2000, hoje enfrenta problemas de saúde. É o DG que o ajuda a manter uma rotina e conectar-se com a realidade

28/07/2022 - 14h39min

Atualizada em: 28/07/2022 - 16h02min


Anselmo Cunha / Agencia RBS
Com a família, força inabalável

Anos de parceria e trocas: um empresta sua atenção, enquanto o outro entrega informação. Assim, no dia a dia do agente administrativo aposentado Firmino Moreira, 83 anos, está o Diário Gaúcho. Desde os anos 2000, esses dois companheiros não se largam. Nem as dificuldades da vida atrapalham a relação. Hoje, com problemas de saúde atravancando o caminho de Firmino, é o DG que o ajuda a manter uma rotina e conectar-se com a realidade. Uma parceria cheia de minúcias que envolveram toda a família: a do seu Firmino e a nossa, da redação do DG. A seguir, conheça a história de vida desse leitor especial. 

Acordar, tomar café e remédios, caminhar e ler o DG. É assim que os dias começam para o agente administrativo aposentado Firmino Moreira, 83 anos, morador do bairro Rubem Berta, zona norte de Porto Alegre.

Natural de Bagé, no Interior, Firmino tem o DG entre suas paixões de vida, assim como o bloco carnavalesco Vagalumes do Luar, que ajudou a fundar quando morava em Dom Pedrito, e o CTG Coxilha Aberta, na zona norte da Capital, onde ficou na patronagem por anos. As seções que mais gosta são as de política, esporte e leitor. Essa última o fez nutrir um sonho: aparecer nesse jornal que, com o tempo, virou seu companheiro.

A família explica que ele é leitor assíduo do DG desde o surgimento, nos anos 2000. E que a poltrona ao lado da porta da sala de casa tornou-se o cantinho de Firmino para a leitura do jornal. 

– Minhas lembranças do vô, desde pequena, são dele lendo o jornal. Uma vez, foi me buscar no colégio bem no dia da invasão do Morro do Alemão (no Rio). E, no caminho, parou, comprou o jornal e disse que preferia se informar pelo DG do que pela TV – relembra Laura Luiza Moraes Moreira, 20 anos, neta de Firmino e de sua esposa, Neida Maria Rodrigues Moreira, 79 anos.

Anselmo Cunha / Agencia RBS
É lendo o DG que aposentado inicia os seus dias

Esquecimento

O carinho e a confiança no jornal permaneceram vivos mesmo nos períodos mais difíceis. 

O gaúcho, admirado por ter excelente memória, foi diagnosticado em 2020 com isquemia cerebral e, posteriormente, com mal de Parkinson e pneumonia broncoaspirativa. Esses problemas podem causar sintomas como perda de memória e alucinações.

Nas páginas do jornal, o contador de histórias do CTG se reconecta. 

A filha mais velha, Giovani Aparecida Rodrigues Moreira, 56 anos, explica que, agora, o DG também assumiu uma função “medicinal” na vida do pai. Manter uma rotina constante de atividades e uma organização metódica ajudam a manter sua mente saudável. São exercícios que o deixam mais conectado com a realidade.

– Que o jornal me ajuda com a memória é bem certinho. Já faz parte de mim. Se eu não ler o jornal, sinto como se algo não estivesse certo e não consigo me organizar – explica Firmino. 

Anselmo Cunha / Agencia RBS
Ler o jornal ajuda a mantê-lo conectado com a realidade

Quadro de saúde se agravou

Em fevereiro de 2022, quando o quadro de saúde de Firmino piorou, ele precisou ser internado na Santa Casa de Porto Alegre, no Pavilhão Pereira Filho, por quase uma semana. Nesse período, relembra a filha Lídia Valdirene Moreira, 54 anos, começou a ter alucinações, não conseguia caminhar nem comer sozinho, e não reconhecia a família. 

– Nestes dias, a única coisa que o ligava à realidade era o Diário Gaúcho. Mesmo que às vezes não reconhecesse o filho ou a filha que estava ali, o DG não saía da sua cabeça. Ele nos pedia para pegar o jornal, que já ficava reservado em seu nome em um mercado na esquina de casa, e trocar a cartela do Junte e Ganhe que estava completa – conta. 

Hoje, as crises de memória e alucinações já se estabilizaram. Apesar disso, às vezes, o agente administrativo aposentado ainda percebe algumas lembranças desaparecendo aos poucos. 

Família

A paixão pelo jornal só não é maior do que o amor que sente pela família, garante Firmino, que é patriarca dos Moreira. São oito filhos, 17 netos e sete bisnetos – isso sem contar “agregados” e parentes mais distantes. Completa, a família conta com 48 membros, segundo as contas da filha Ana Paula Rodrigues Moreira, 40 anos. 

Tudo começou há seis décadas, em um baile em Dom Pedrito. Foi a ocasião em que Neida e Firmino se conheceram. Era, na verdade, para o gaúcho dançar com uma amiga de Neida, mas, depois da primeira música com a futura esposa, os dois se gostaram tanto que dançaram a festa inteira. Desde lá, começaram a nutrir afeto um pelo outro. 

– Aí namoramos um mundo de anos, depois ganhamos o primeiro filho, casamos pelo civil lá em Dom Pedrito já nos dois anos da mais velha. Na época, falamos assim: “Se Deus nos ajudar, nos der vida e saúde, quando tivermos 50 anos, vamos casar na igreja”. E assim foi. Fizemos uma linda festa – narra a matriarca.

Anselmo Cunha / Agencia RBS
Neida e Firmino estão juntos há cerca de seis décadas

Casal é exemplo de amor e companheirismo para todos os familiares

O companheirismo é uma marca registrada do casal, que, com esforço, criou os oito filhos com o que tinha de melhor para oferecer. O então sapateiro fazia “dupla dinâmica” com a costureira.

– Ele fazia sapatos para os filhos. E eu fazia roupas para as crianças. Como era uma turminha, era preciso trabalhar dia e noite para sustentar esse monte de filhos – recorda Neida. 

Buscando sempre evoluir, o gaúcho se profissionalizou e estudou. Passou por diferentes empregos, como motorista e carregador, até ser aprovado em um concurso como agente administrativo do INSS, onde ficou por 15 anos. 

– Para se formar no Julinho (Colégio Estadual Júlio de Castilhos), o pai saía às 5h de casa. Às vezes, quando chovia, ele precisava tirar os calçados para cruzar o valão, secava os pés e depois ia estudar e trabalhar – relembra o filho Roni Robson Rodrigues Moreira, 53 anos, que se emociona ao pensar em todo o esforço feito por Firmino e Neida para criá-los.

Anselmo Cunha / Agencia RBS
Coleções do Junte e Ganhe são tesouros de Firmino

Relações 

O exemplo dos pais foi incorporado pela prole, que é, em grande parte, formada no ensino superior - conquista de muito orgulho para os membros da família, que, por diversas vezes, tiveram os seus caminhos mais difíceis por conta do racismo estrutural. 

– Nós temos que provar o dobro de vezes que somos bons. Temos que dar mais que o nosso melhor para mostrar que merecemos uma oportunidade – analisa Lídia.  

Apesar das dificuldades, eles não desistiram do sonho da faculdade e profissionalização. Lídia, por exemplo, se formou com 54 anos no curso de Serviço Social, se tornando uma assistente social. 

Os irmãos também estão encaminhados na vida. Hoje, radialista, segurança, agente municipal, contador, técnicos, barbeiro, educador físico, cuidador de idosos e historiador compõem a família Moreira. 

– Eu fico orgulhosa de poder ver, dos meus filhos aos netos, todos estudando e com profissões – se derrete Neida. 

O legado mais importante, passado de geração em geração pela família Moreira, foi o do amor, do cuidado e do companheirismo, sentimentos cultivados desde que Neida e Firmino se conheceram, há mais de 60 anos.

– Durante a internação do pai, nós nos dividimos. Em um dia, ficava um filho (no hospital), no outro dia, ficava outro. Não deixamos ele sozinho. Tanto o pai quanto a mãe são tudo para nós. Eles fizeram de tudo por nós, para nos criar, e agora nós vamos fazer tudo por eles também – ressalta Lídia. 

O legado de amor pelo DG também perdurou. Por conta da paixão de Firmino pelo jornal, hoje todos da família têm alguma ligação com o Diário. Seja de admiração e respeito pela conexão de Firmino com a publicação, de alegria ao utilizar os novos kits do Junte & Ganhe, ou de folhear as páginas e ler matérias no cotidiano.

– Por causa do pai, acabamos todos lendo o Diário – finaliza Lídia.

Produção: Júlia Ozorio


MAIS SOBRE

Últimas Notícias