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Cris Silva: "Um negócio memorável"
Colunista traz histórias inspiradoras de vida e trabalho todas as sextas-feiras
A coluna de hoje conta a história de uma mulher de quem virei fã. Várias vezes me perguntam: "Quem te inspira, Cris?". A Sara, personagem de hoje, certamente é uma delas. A professora aposentada com olhar empático, atento e fraterno criou uma forma de promover diversão e experiências memoráveis para jovens com deficiência. Conheça Sara Zinger, 78 anos, fundadora do Clube Social Pertence.
FOI ASSIM
"Me realizei como professora e, depois de me aposentar, passei a dar aula particular para uma jovem com deficiência. Foi um grande desafio, pois não tinha essa experiência na docência. Através desta aluna, surgiram outros alunos na mesma situação. O Pertence, que ainda não tinha nome, começou quando me dei conta, depois de algum tempo trabalhando com eles, que não tinham vida social, além do âmbito familiar. Convívio familiar é diferente do convívio com os amigos, dentro da sociedade como um todo. Tinham muita vontade de viver, como todos os jovens: sair, dançar, baladas, barzinho, namorar..."
NASCEU O CLUBE
"Oficialmente, o Clube Pertence surgiu em 13 de agosto de 2011. O gatilho foi quando, nas aulas, eu ouvia sempre as histórias dos familiares dos jovens, e não as deles. Mas vi que eles tinham o desejo de viver suas histórias, e tinham esse direito. Convidei três deles, era o que cabia no meu carro, e comecei a sair com eles à noite. Sair à noite, sem os pais, era o maior sonho deles. Meu objetivo era dar a eles oportunidade de formar e participar de um grupo fora de casa, para desenvolver a sua independência e se sentirem pertencentes à sociedade."
NOSSA MISSÃO
"Nosso negócio é um clube – Clube Social Pertence – para pessoas com deficiência, cujo objetivo é a socialização, o lazer e o entretenimento dos seus participantes. Nossa missão é criar experiências memoráveis e proporcionar o sentimento de pertencer às pessoas com deficiência."
DECIDI NÃO PARAR
"Meu momento mais difícil foi pessoal, quando meus amigos tentaram me convencer de que eu deveria me aposentar definitivamente, sem ter nenhum compromisso, afinal, já estava com 67 para 68 anos. Não me achava em idade de esquecer meus sonhos. Toda minha vida foi direcionada a algum objetivo, e fazer aqueles jovens felizes seria mais um a ser alcançado. Outro desafio foi quando precisávamos alugar um lugar físico para as atividades: havia essa necessidade, mas, naquele momento, financeiramente, o negócio ainda não dava retorno."
OS PILARES
"Tenho a sorte de ter ao meu lado Victor Daniel Freiberg, o outro diretor, pois acredito que, sem ele nesta grande jornada, o Pertence não teria alcançado o topo deste patamar que chegou. E, é claro, o Time Pertence, hoje formado por 49 profissionais engajados e altamente competentes. O brilho nos olhos dos participantes, a alegria deles me motiva a continuar."
DAQUI PRA FRENTE
"São vários os motivos que me fazem continuar e me sentir mais feliz, mas destaco o brilho de felicidade nos olhos daqueles que lutaram parte de sua vida para deixarem de ser invisíveis diante da nossa sociedade cheia de preconceitos. A tendência, daqui para frente, é continuar crescendo, continuar proporcionando, cada vez mais, qualidade de vida às pessoas que têm o desejo e o direito de ser feliz."
SOBRE MIM
"Decidir uma meta traz sentido à vida. Sempre tive um propósito: ensinar. E, hoje, ainda com muitos sonhos a ver acontecer, olho para os mais de 800 jovens que passaram pelo Pertence ao longo desses 11 anos. Jovens cheios de vida, de desejos e de esperança por uma vida plena de alegrias, e sinto que continuo não só ensinando, mas principalmente aprendendo o que é felicidade. Entendi que estar junto com os jovens, ensinar, ajudar, dar motivos para tornar as pessoas mais felizes nos realiza e nos dá muita vontade de mudar o mundo."
Quem quiser conhecer o trabalho da Sara e da equipe do Clube Social Pertence pode visitar a sede, que fica na Rua Gonçalves Ledo, 473, bairro Partenon, em Porto Alegre.
RECADO DA CRIS
"A vida é muito importante para torná-la insignificante". (Charlie Chaplin)