Coluna da Maga
Magali Moraes e os vizinhos incômodos
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Os cupins comeram as caixas de correspondência aqui do prédio. É o tipo de vizinho que ninguém quer. Pior que eles, só os humanos que não sorriem nem cumprimentam. Abrir a porta de casa pra cupim? Nem pensar. O cafezinho fica pro dia de São Nunca. Se resolverem participar da reunião de condomínio, serão expulsos na hora. Pelo jeito, eles já faziam parte da nossa vida há bons anos. Devem ter chegado de mansinho e foram ficando, se alimentando da madeira que nem era deles.
Se os cupins tivessem comido nossos boletos, talvez a gente sentisse alguma simpatia. Um mínimo de consideração. Mas até assim dariam despesa: ter que imprimir a segunda via ou passar vergonha e apresentar no caixa do banco um boleto carcomido. Mesmo nos débitos em conta, o pessoal prevenido quer guardar papel. Imagine indo pra gaveta de documentos micro filhotinhos de cupim pra se criarem ali. Crescendo, se multiplicando. Feito traças, abrindo rombos nas madeiras da família.
Elevadores
Vida boa desses cupins. Nunca pagaram aluguel ou chamada extra. Instalaram moradia em um cantinho sem sol, sem graça, porém movimentado. Bem no acesso aos elevadores onde todo mundo espera, conversa, chega e sai com sacolas. Não sei se os buracos na lateral permitiam que eles assistissem de camarote ao vai-e-vem dos moradores (provavelmente sim, senão não teriam sido despejados). Mas é certo que eles escutavam muita coisa. Tudo, na verdade. Comendo madeira e fofocando.
Pelo menos, graças a eles ganhamos caixas novas de correspondência. De metal, bonitas e com ar tecnológico. À prova de cupim. Coitadas, só vão receber tediosas papeladas. Algum raro cartão de Natal. A parte boa (encomendas!) faz pit-stop na guarita da portaria. Ali, sim, é movimentado. Enquanto isso, as caixas velhas seguem à espera da remoção. Foram úteis, viram a criançada do prédio crescer, agora parecem estranhos objetos de decoração. Até os cupins já devem ter se mudado.