Papo Reto
Manoel Soares dá um toque sobre saúde mental
Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados
Nossos sentimentos são como pessoas em uma fila para sair de uma sala. Na fila, tem amor, medo, ódio, raiva, alegria, tristeza, coragem e por aí vai. O que atualmente tenho visto as pessoas fazerem é, em nome de uma ditadura da felicidade, passarem os sentimentos ruins para o fim da fila quando chega a sua vez.
O problema dessa decisão é que vão acomodando sentimentos ruins dentro de si, e estes sentimentos começam a predominar em quantidade em seu peito. Em pouco tempo, os sentimentos ruins começam a se disfarçar de sentimentos bons para poderem sair também. A raiva veste a roupa da justiça, o medo veste a roupa do cuidado, a tristeza veste a roupa da reflexão e por aí vai.
Nesse jogo inconsciente de auto enganação, nossas ações e personalidade são contaminadas ao ponto de não nos reconhecermos no espelho. Com o tempo, não sabemos mais qual sentimento está saindo de nós, pois não dá para saber o que é bom ou ruim, já que eles se disfarçam.
Nessa hora, precisamos de ajuda especializada, temos que buscar um profissional que organize essa fila em nosso coração e tire os disfarces. Esse profissional é o psicólogo, ele vai nos ajudar a olhar para nós mesmos com distanciamento. Isso parece fácil, mas não é: precisamos de muito exercício e serenidade para fazer isso, pois até chegar ao ponto em que entendemos os nossos dilemas, vamos brigar com a verdade e tentar impor a nossa versão. Mas não podemos alimentar convicções que nos fazem tirar fotos para a rede social quando a depressão tem aparência de férias.