Papo Reto
Manoel Soares e o Jonas dos Pampas
Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados
Na Bíblia, o livro de Jonas tem um relato que sempre me emocionou. Em um determinado momento, ele recebeu um chamado de Deus para alertar a cidade de Nínive, que estava à beira de ser destruída por conta das condutas erradas de quem vivia nela. Jonas não acreditava no arrependimento dos habitantes e se recusou a cumprir a missão divina, até que foi obrigado a ir.
Fez um trabalho meia-boca de aviso e depois se refugiou em um monte para ver a cidade ser destruída. Nesse local, Deus fez crescer sobre ele um pé de cabaceiro, que passou a ser o único “amigo” de Jonas. Em uma noite, Deus fez esse cabaceiro morrer. Jonas, que se via solitário, foi se queixar com Deus por tirar dele o único amigo que possuía na solidão da espera.
Foi aí que Deus questionou a Jonas sobre a importância que ele dava aos que estavam ao seu redor. Ele esperava que uma cidade inteira fosse destruída porque achava que eram incapazes de mudar, mas lamentava a morte de um cabaceiro que não plantou nem fez crescer.
Essa passagem bíblica sempre me fez refletir sobre a relativização que damos aos assuntos e situações. Se soubermos que um brigadiano deu três pauladas e matou um cachorro da raça beagle sem motivo, vamos nos revoltar até que seja feita justiça. Vamos ficar em cima, pois não existe razão para tal selvageria.
Mas amigos, o jovem Gabriel Marques Cavalheiro foi morto e, sinceramente, vi notícias, mas não vi a sociedade se mobilizar e exigir punições. Muitas vezes, assim como Jonas, priorizamos o que está mais perto e esquecemos do que está nos afastando de nossa humanidade. Se a morte do Gabriel ficar no esquecimento, uma parte da nobreza gaúcha se vai também para o túmulo. Aos familiares dele, meus sinceros sentimentos de dor e solidariedade.