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Mês de alerta: prevenção contra a leishmaniose

Agosto verde lembra a importância dos cuidados contra a leishmaniose, uma doença que acomete animais e pessoas

23/08/2022 - 16h06min

Atualizada em: 23/08/2022 - 16h10min


Arquivo pessoal / Reprodução
Desde o começo de sua residência no Hospital de Clínicas Veterinárias da UFRGS, em abril, Adriane atendeu três casos de leishmaniose

No mês de agosto, diversas campanhas alertam a população sobre temas relacionados à saúde, como a de prevenção ao linfoma e a de conscientização sobre esclerose múltipla. Há também o Agosto Verde, que lembra a importância dos cuidados contra a leishmaniose, uma doença que acomete animais e pessoas. 

A enfermidade é causada pelo parasita leishmania, um protozoário (microrganismo), e é transmitida para animais e pessoas por meio da picada de insetos infectados, os mosquitos-palha, que são vetores da doença. Eles recebem esse nome devido à sua coloração amarela. 

Transmissão

Há uma crença de que os cães são transmissores de leishmaniose, mas não é verdade. Nas zonas urbanas, eles são os principais reservatórios do protozoário, mas não podem, diretamente, transmitir a enfermidade. O único meio de infecção é o mosquito. 

Pessoas e animais como gatos, cavalos, marsupiais e pequenos roedores também podem positivar para a doença, caso picados pelo mosquito infectado.

Em fevereiro, o Diário Gaúcho explicou que temperaturas altas favorecem o aumento de leishmaniose. Isso acontece porque o mosquito-palha, assim como outros, se reproduz mais nesse período. 

Apesar disso, os contágios podem acontecer em qualquer época do ano. Fatores como baixa luminosidade, umidade, lixo, água e matéria orgânica acumulada –  folhas, fezes de animais, restos de comida – são propícios para a reprodução desse inseto.

A doença

A médica veterinária residente do Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Adriane Strack, 34 anos, explica que existem dois tipos de leishmaniose: a tegumentar (cutânea) e a visceral, também chamada de calazar. 

A primeira causa feridas na pele e mucosas do nariz, da boca e garganta. Já a segunda é mais grave e, além de feridas na pele, acomete órgãos internos, como o fígado, o baço e a medula óssea.

Mesmo que um animal seja infectado, é comum que ele não apresente sintomas imediatamente. A leishmaniose não tem cura e, caso a infecção seja descoberta tardiamente, pode levar à morte, principalmente em casos da visceral. Por isso, é importante que o tutor fique atento à saúde de seu pet e sempre o leve para uma visita ao veterinário.

Saiba identificar 

Os sintomas são variados e podem mudar de acordo com o estágio da doença. Alguns dos sinais podem incluir: 

/// Emagrecimento
/// Anemia
/// Dificuldades de locomoção
/// Lesões na pele
/// Feridas no focinho, orelhas e perto dos olhos
/// Infecção ocular ou dificuldade de enxergar  
/// Crescimento anormal das unhas
/// Enfraquecimento do pelo
/// Pessoas podem manifestar febre, perda do apetite, palidez e sangramentos na boca e nos intestinos

O tratamento 

Adriane explica que o tratamento da leishmaniose é feito por ciclos, de acordo com o estágio da doença. Cada ciclo tem 30 dias e inclui medicações e protocolos paralelos, como para a recuperação da pele e do peso.

– O tutor tem que estar ciente que, além de ser um tratamento longo e oneroso (caro), ele tem que dispor de tempo. São necessários vários ciclos para o controle da doença, porque ela não tem um tratamento específico nem cura. Então é necessário sempre realizar exames para avaliar a necessidade de um novo ciclo – pontua. 

Como evitar

 A médica veterinária diz que o melhor tratamento contra a leishmaniose é sempre a prevenção. Para isso, recomenda que os animais visitem o veterinário com frequência, façam o teste para a doença e, caso negativos, sejam vacinados. 

São necessárias três doses, com um intervalo de 21 dias entre cada aplicação. O reforço anual deve ser feito a partir da data da primeira vacina. O uso de coleira repelente também é uma dica de Adriane, porque ajuda a evitar o contato do mosquito com o pet.

Não é recomendado deixar os mascotes soltos na rua sem a supervisão do tutor. Passeios pela cidade são mais seguros durante o dia. O entardecer e a noite são os períodos de maior atividade dos mosquitos-palha.

Pessoas podem evitar a doença realizando dedetização de suas casas e pátios e mantendo-os limpos. Telas protetoras em janelas e portas, além do uso de repelente, também são alternativas para manter longe os insetos – não só os transmissores de leishmaniose, como também de outras doenças.

A importância de conscientizar 

Arquivo pessoal / Reprodução
Sandra e os irmãos Clock e Chip. O primeiro é positivo para a doença, já o segundo, não.

Segundo a médica, até 2016 não havia um medicamento permitido por lei para o tratamento dos animais contaminados com leishmaniose. A única recomendação era a eutanásia. Foi a partir daquele ano que o Ministério da Saúde permitiu o remédio miltefosina para o protocolo de cuidados de animais com a doença.

– A chegada do medicamento foi um grande avanço, porque temos como tratar esses animais. Mesmo que a prática da eutanásia ainda seja considerada uma medida de saúde pública, visando diminuir a circulação da doença, agora existe opção de tratamento. O tutor pode escolher se o animalzinho positivo para leishmaniose será tratado com medicação ou não – analisa a médica veterinária.

Desde o começo de sua residência no Hospital de Clínicas Veterinárias da UFRGS, em abril, Adriane atendeu três casos de leishmaniose. Um deles foi o cãozinho Clock, que tem 12 anos e está no segundo ciclo de medicação contra a enfermidade.

A opção pelo tratamento, para os tutores, foi uma alegria, porque permitiu que o cãozinho, tão amado pela família, tivesse uma segunda chance. 

– Apesar do Clock estar em condições físicas lastimáveis, as reações dele conosco eram de uma mente sã, pedindo socorro, carinho e atenção. O tratamento não está sendo fácil, tanto financeiro como físico, mas ele é uma “pessoinha” que vale o sacrifício e o amor – conta a tutora Sandra Maria da Silva Moraes, 69 anos, economiária aposentada.

Caso sejam tratados e usem a coleira repelente, os animais com leishmaniose podem seguir a vida normalmente.

Produção: Júlia Ozorio



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