Idosos em dificuldades
Falta de fraldas geriátricas nos postos de saúde de Porto Alegre volta a afetar a população
Prefeitura informa que está com desfalque nos estoques apenas de material no tamanho G
A população voltou a reclamar da inconstância na distribuição de fraldas geriátricas em postos de saúde da prefeitura de Porto Alegre. Inês Ketzer, 64 anos, cuida em tempo integral de sua mãe de criação, Maria Neusa Lopes Matias, 80. A idosa necessita de fraldas geriátricas desde 2 de setembro de 2017, quando sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). Desde então, vive em uma cama em sua casa no bairro Sarandi, na Zona Norte, com o lado direito do corpo paralisado.
— Cada vez que a gente vai lá (Postão do IAPI, no bairro Passo D’Areia) ou não tem fralda P, M, G ou GG. Aí demora e ficamos em pânico. Está se tornando complicado isso — relata a filha, que foi na terça-feira (27) buscar o material e, chegando ao posto, foi informada de que não havia fraldas disponíveis.
A reportagem ligou para o Posto do IAPI às 10h36min desta quarta-feira (28). Questionada se havia fraldas com todos os tamanhos à disposição, a atendente respondeu que não:
— Não, não. A gente está sem G e GG. Estamos atualizando diariamente as informações pelo WhatsApp.
Não é a primeira vez que dona Inês Ketzer passa pelo problema. Em 26 de maio, GZH contou o drama dela em busca de fraldas para a mãe. Agora, a história se repete.
— Busco uma vez por mês 150 fraldas — conta, salientando que sua mãe usa o tamanho GG.
A situação está bem difícil novamente.
— Está R$ 63, o pacote. Não temos condições de comprar — desabafa, citando que possui apenas seis pacotes, o que "não dura nem 15 dias”.
A média é de quatro fraldas trocadas diariamente. Apenas as 150 que recebe da prefeitura não suprem a necessidade de sua mãe.
— Gastamos do nosso bolso em torno de R$ 700 por mês. Não tenho renda, cuido dela 24 horas por dia — explica, dizendo que já ligou para o telefone 156 para reclamar e atesta que "não adianta nada".
Dessa maneira, ela precisa de ajuda. A aposentadoria da mãe — de R$ 1.212 mensais — é utilizada para o pagamento de luz, água, comida, Ecco Salva e outras necessidades. Um sobrinho ajuda pagando os gastos com farmácia, e outra sobrinha, que mora em Brasília, envia R$ 200 todos os meses.
— Meu padrasto (Manoel Joaquim Matias) faleceu em 21 de julho. Estou lutando para conseguir a pensão dele — diz. — É inacreditável, cada vez mais esses gastos exorbitantes com política, esses salários altíssimos desses governadores, e o povo passando fome e necessidade — acrescenta, revoltada.
Realidade semelhante atinge outras pessoas. A dona de casa Viviane Telles Trindade, 37, cuida da mãe Ecila Flores Telles, 71, que sofre de esquizofrenia.
— Mês passado fui buscar as fraldas para ela no Posto do IAPI e não consegui — recorda.
A mãe, que está acamada há quatro anos, necessita de cerca de quatro mudas de fraldas por dia. E utiliza os tamanhos G ou GG.
— Estou pedindo doações até pelo Facebook. Também entro em contato com ONGs porque não tenho como comprar — lamenta.
Quando nem as doações suprem a necessidade, a irmã Cristiane Flores Telles auxilia dando um ou dois pacotes de fraldas, mas a situação permanece dramática.
— As pessoas precisam se unir e ter mais compaixão pelo próximo — reflete a moradora do bairro Rubem Berta.
A técnica em enfermagem Patricia Amaral, 47, costuma buscar fraldas para sua mãe, Eva Belina Amaral, 75, que está acamada há cerca de dois anos depois de passar por uma cirurgia malsucedida na coluna cervical.
— Temos direito a receber 150 fraldas por mês, mas minha mãe usa 300 mensalmente — compartilha a moradora do bairro Vila Nova.
As fraldas (tamanho GG) são buscadas pela filha no dia 12 de cada mês, no Postão da Cruzeiro, no bairro Santa Tereza, na Zona Sul.
— Já ficamos até três meses sem receber fraldas porque trocaram a distribuidora — lembra, sobre problemas do passado.
A filha conta que pesquisa na internet pessoas que perderam algum parente e possuem fraldas para doar. Quando não consegue dessa maneira, utiliza outra estratégia.
— Compro direto das fábricas de fundo de garagem que produzem e são mais baratas — assegura, citando que sua mãe chega a trocar oito fraldas por dia.
O que diz a prefeitura
A prefeitura da Capital afirma, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que o problema da inconstância na distribuição das fraldas ocorre apenas com o tamanho G. Confira, na íntegra, a nota da prefeitura:
“A Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre informa que houve um aumento de consumo de fraldas do tamanho G, o que ocasionou a falta de estoque (por esgotamento do quantitativo de itens previstos no registro de preços). Tão logo o aumento de consumo foi detectado, o processo de novo registro foi disparado, ainda no mês de agosto. Neste momento o processo encontra-se em análise na área de licitações da Prefeitura para finalização do processo licitatório, que deve ocorrer na próxima semana.”