Notícias



Mercado de trabalho

Iniciativas democratizam o acesso a áreas ligadas à TI: saiba onde encontrar qualificação

 O Programa Mulheres na Computação, da PUCRS, está com inscrições abertas até 30 de setembro

24/09/2022 - 07h00min


Kênia Fialho
Kênia Fialho
Luciana Marques / Reprodução/PUCRS
Jeniffer se encontrou profissionalmente no curso de Ciência da Computação

  Esta reportagem está dividida em duas partes. Leia a primeira parte aqui

Diante do cenário de ascensão dos empregos em tecnologias, a Capital e municípios da região metropolitana de Porto Alegre já possuem iniciativas positivas que surgiram para incentivar o desenvolvimento de profissionais da área de TI. Segundo a professora, pesquisadora e coordenadora da graduação em Ciência da Computação da Unisinos, Rosemary Francisco, para ser um bom profissional de tecnologia, é preciso ser uma pessoa curiosa e que tem disposição e vontade para aprender:

— Nossa área muda muito e rapidamente, então, estar disposto a aprender continuamente e se adaptar às inovações é importante.

A professora destaca também que o mercado está em alta. O interessante, segundo ela, é que as empresas também estão fazendo sua parte e entrando forte com programas em parceria com as instituições de ensino para viabilizar o acesso à educação e ao aprendizado de conhecimentos específicos.

Programa Mulheres na Computação

A estudante do curso de bacharelado em Ciência da Computação Jeniffer Aparecida Klein Bittencourt, 24 anos, foi contemplada na primeira edição do Programa Mulheres na Computação, que ocorreu em 2020, promovido pela PUCRS em parceria com a empresa Poatek. Desde muito nova, Jeniffer demonstrou interesse por tecnologia. Mas, como muitos jovens, ela não tinha certeza sobre qual profissão gostaria de seguir. 

Assim, começou a fazer um curso técnico em Informática. Por problemas de saúde, precisou desistir da formação. Natural de Gravataí, em 2018, foi aprovada no curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (Ifsul), na cidade de Camaquã. Por ficar muito distante da família, resolveu se inscrever no programa promovido pela PUCRS e foi aprovada com bolsa integral. 

— Eu já estava com vontade de ficar mais perto de casa. Como em Camaquã não tinha tanta oportunidade na área, resolvi arriscar e deu certo — afirma a estudante.

Durante os três primeiros semestres, Jeniffer recebeu um auxílio, o que possibilitou que, durante um ano e meio, participasse de grupos de pesquisa e tivesse experiência em pesquisa acadêmica. Atualmente, ela faz estágio na área de inteligência de software. 

Para concorrer às bolsas, é necessário possuir renda familiar de até 1,5 salário mínimo por pessoa. Além disso, as candidatas passam por etapas de entrevistas. 

/// Estão abertas as inscrições para o Programa Mulheres na Computação, até o dia 30 de setembro.São oferecidas cinco bolsas integrais para o ingresso no curso de bacharelado em Ciência da Computação. Além disso, as contempladas receberão bolsa-auxílio mensal de
R$ 1,2 mil, durante os três primeiros semestres do curso. Para saber mais, clique aqui.

Programa mudou vida de jovem de Sapucaia 

Reprodução / Arquivo Pessoal
Dilan trabalhava como barbeiro. O jovem viu na TI uma nova possibilidade de atuação profissional

Poder trabalhar exercitando ao máximo a criatividade. Esse era o objetivo de Dilan Severino de Oliveira, 23 anos, morador do bairro Lomba da Palmeira, em Sapucaia do Sul. Em pouco tempo, o jovem viu sua vida profissional mudar rapidamente. Aos 21 anos, trabalhando como barbeiro, sentia que precisava de uma ocupação que possibilitasse o desenvolvimento pleno de sua criatividade. 

Em 2021, por sugestão de um padrinho, se inscreveu no Programa Tech.Já, em que é oferecido um curso de capacitação básica para iniciar uma carreira na área de TI. Após conversar com a família, decidiu parar de trabalhar para poder se dedicar totalmente à formação. O curso é uma parceria entre a ONG Junior Achievement, com o apoio do Google e BID Lab, laboratório de inovação do grupo BID. 

Dilan conta que, no início, se perguntou se daria certo. No entanto, persistiu. Mesmo sem computador, conseguiu um aparelho emprestado e realizou o curso completo. 

— Eu estava muito animado, querendo colocar em prática tudo que estava aprendendo —relembra. 

Cerca de um mês após concluir o curso, conseguiu um estágio na área. Hoje, trabalha no modelo home office para uma empresa de tecnologia que possui sede em São Paulo. Conta, orgulhoso, que já participou de eventos internacionais na área, e que hoje é colega de profissionais que foram referência durante o curso: 

— Eu queria demais, nada seria empecilho. Mas eu não imaginava que conseguiria conquistar tudo isso em tão pouco tempo. 

Para participar do programa, é preciso ter entre 18 e 29 anos, ter concluído o Ensino Médio em escola pública, não estar trabalhando, não estar estudando e não ter graduação completa. Além disso, é preciso ter tempo disponível para os estudos, durante o curso, e ter afinidade com TI ou vontade de aprender sobre a área. Para acompanhar o programa, clique aqui.

Acolhimento ainda é um desafio 

Lauro Alves / Agencia RBS
Francielle confessa ter cogitado abandonar o curso de Ciência da Computação

Para Jeniffer, as maiores adversidades ao longo do curso foram a insegurança e o medo de não dar conta. Além disso, ela destaca que, por muito tempo, não conseguiu evitar a comparação. A questão financeira também foi, antes de participar do programa, uma barreira: 

— Tem uma questão interna muito forte. É uma área bastante competitiva e masculina. Estamos sempre buscando aprovação. Se não fosse a bolsa integral, eu não estaria fazendo o curso na PUCRS. Porque é, pra mim, uma mensalidade alta.

Refletindo sobre sua trajetória ao longo do curso,  Francielle Fernandes Rodrigues, 24 anos,  aluna de bacharelado de Ciência da Computação na UFRGS, confessa que o maior motivo de orgulho foi não ter desistido. Nos primeiros semestres, a estudante afirma ter pensado em abandonar a universidade. Primeiro, explica, pela questão financeira, de não ter a possibilidade de trabalhar devido a quantidade de disciplinas (no início da graduação). Além disso, há a desigualdade entre alunos de escolas públicas e escolas particulares. 

— Tudo é desanimador. Também tem a questão de ser mulher. Dentro da TI isso é complicado. Nas empresas, não percebo tanto. Mas, na faculdade eu vejo bastante — destaca.

A estudante detalha que há disciplinas em que ela é a única mulher na turma. Além disso, conta que, por serem tão poucas, acabam todas se conhecendo. Francielle lembra de um episódio que ocorreu no primeiro dia de aula na UFRGS:

— Por ser cotista e ter que esperar para aprovarem minha documentação, comecei, efetivamente, com três semanas de atraso. No primeiro dia, eu estava meio perdida, por ser tudo muito novo. Perguntei para uns alunos onde ficava determinado prédio. Um deles olhou para o grupo, só de homens, deu uma risada e disse "só poderia ser guria, mesmo" e não me respondeu.

Já Marco Antônio de Souza Rodrigues, 43 anos, pai de Francielle e estudante de Ciência da Computação na UFRGS, destaca que, quanto ao acolhimento dos colegas, foi bem diferente do que ele imaginava. Por ser sua primeira experiência no Ensino Superior, o morador de Alvorada acreditava que a diferença de idade seria uma barreira, o que acabou não influenciando. 

Reprodução / Arquivo Pessoal
Nana é gaúcha e atualmente mora na Irlanda e trabalha como engenheira de qualidade de software

Desigualdade

A engenheira de qualidade de software Nana da Silva, 28 anos, nasceu em Porto Alegre e atualmente mora na Irlanda. Ela ingressou no curso de Física, na PUCRS, como bolsista, mas não concluiu a graduação. Ainda assim, desde 2017 trabalha na área de TI. Para ela, a desigualdade nas profissões de tecnologia começa no momento de estudar, quando já é necessário ter um computador:

— Ai fica a pergunta, quantas pessoas têm acesso a um computador no Brasil? Quem são e onde vivem essas pessoas? 

Nana é uma pessoa com autismo e possui perda auditiva gradativa por ter osteogênese imperfeita tipo 1, uma doença genética conhecida como ossos de vidro. Apesar de identificar uma mudança no mercado, a partir do surgimento de movimentos para a equidade, ela constatar que há escassez de profissionais de RH qualificados:

— Faltam pessoas aptas para se comunicar com deficientes e com negros, por exemplo. É um processo demorado e nem todas as empresas querem investir nisso. 

Para as pessoas que pensam em ingressar na área, a porto-alegrense aconselha que é importante respeitar o tempo de cada um, tentar não se comparar, ter foco e aceitar o que é possível fazer a cada dia.

Conheça outras formações

/// Programa Nova Geração: projeto promovido pelo Instituto Caldeira, localizado no 4º Distrito, em Porto Alegre, para jovens de 16 a 24 anos, alunos ou ex-alunos da rede pública ou bolsistas integrais em escolas particulares. As trilhas educacionais online consistem em atividades de programação, marketing digital, computação em nuvem, ferramentas de trabalho e de gestão de vendas. Com o sucesso da iniciativa, que selecionou 750 jovens entre 2,6 mil inscritos, a intenção do Caldeira é realizar o curso uma vez por semestre, para mil pessoas por vez. Clique aqui para saber mais.

/// Program.Ada - Mulheres na Computação: o grupo é formado por estudantes de Ciência e Engenharia da Computação da UFRGS. Seu objetivo é debater sobre a participação feminina na ciência e estimular mulheres a seguirem na área da computação. Clique aqui e saiba mais.

/// Meninas na Ciência: projeto de extensão do Instituto de Física da UFRGS que busca atrair o público feminino para as áreas das engenharias, física e computação, por meio de atividades de divulgação científica, oficinas e cursos de robótica em escolas da rede pública. Clique aqui e saiba mais.

/// Programa 3 Mil Talentos TI: a iniciativa busca habilitar os estudantes para o ingresso imediato no mercado de trabalho, oferecendo oportunidades que garantam renda, além de atender também a procura por talentos das empresas de TI do Tecnosinos. O projeto é uma parceria entre o Parque Tecnológico São Leopoldo — Tecnosinos, a prefeitura da cidade e o SenacRS. De acordo com a assessoria de imprensa da Unisinos, o programa tem o objetivo capacitar 3 mil jovens entre 15 e 39 anos até 2024. Clique aqui e saiba mais.

/// Curso de Desenvolvedor Java e Python: desde 2019, a Universidade Feevale e a prefeitura de Campo Bom realizam uma parceria para promover cursos de linguagens de programação para estudantes de Ensino Fundamental e Médio. O curso tem cerca de 300 horas e é realizado no polo de Campo Bom da Feevale. Clique aqui e saiba mais.  

/// Logicando: projeto de extensão desenvolvido pela Universidade Feevale que leva para as escolas, tanto para professores quanto para alunos, atividades lúdicas envolvendo lógica de programação. As oficinas desenvolvidas para os professores, têm o objetivo de facilitar a introdução de temas da área de tecnologia nas salas de aula. Clique aqui e saiba mais. 

/// Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS): oferece cursos gratuitos em vários níveis. Entre eles, banco de dados, automação de sistemas, HTML, Javascript e lógica de programação. Todos são realizados pelo Moodle, plataforma online de ensino da instituição, e oferecem certificado após a conclusão. Clique aqui e saiba mais. 

/// Fundação Bradesco: a plataforma online da instituição oferece dezenas de cursos gratuitos. Há opções com diferentes durações e em níveis iniciante, intermediário e avançado. Todos oferecem certificado. Clique aqui e saiba mais. 

/// Google: o Ateliê Digital, espaço que oferece cursos e capacitações online, possui quatro opções de formações ligadas a dados. Nem todos disponibilizam certificados. Clique aqui e saiba mais.  

/// Brasil Mais Digital: programa da iniciativa privada, apoiado por diversas empresas, que oferece mais de 35 cursos de introdução à TI. Todos são gratuitos, realizados em plataformas online e entregam certificação. Clique aqui e saiba mais. 

/// Centro de Inovação e Gestão Ânima (Ciga): projeto de extensão, desenvolvido pela Fadergs, que tem o objetivo de promover a inovação na gestão dos negócios. Atualmente, oferece aos beneficiários da ONG Coletivo Autônomo Morro da Cruz, oficinas de informática focadas na utilização de aplicativos para a busca de empregos. Neste semestre, os participantes terão experiências em desenvolvimento de software. Clique aqui e saiba mais.

*Colaboração: Guilherme Jacques



MAIS SOBRE

Últimas Notícias