Coluna da Maga
Magali Moraes: flores dramáticas
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Enquanto as flores da rua sobrevivem sem grandes cuidados e dão um show já antecipando a chegada da primavera, as flores aqui de casa fazem o maior drama se não recebem um gole a mais de água. Exageradas, viu? É só a terra seca ou elas querem carinho e conversa? Falar sobre fotossíntese, o último capítulo de Pantanal, a previsão do tempo? Esquece. Acertar a quantidade de água é uma tarefa complexa. Confesso que já matei várias plantas de sede ou por afogamento. Mas isso é passado.
Ultimamente, as minhas folhagens não têm o que reclamar. Moram nos melhores cantos da sala. Seguem vivas e possuem a companhia umas das outras. Passam bem, obrigada. Exceto duas ou três, que são realmente melodramáticas. Fazem do vaso um palco. Em vez de darem aquela murchadinha normal, seus caules abrem para os lados e suas flores deitam como se fossem uma cortina de pano caída. No meio, fica um vazio. Nas bordas, as plantas fingem desmaio. Puro teatro.
Sentadas
Trago água fresquinha, e tento não dar muita importância ao fato. Se elas querem que eu aplauda, vão esperar sentadas. Viro as costas, vou cuidar da vida. Mais tarde, passo por ali e o que vejo? Os caules de pé, faceiros. As flores bem firmes, como se nada tivesse acontecido. Plantas fingidas. Se fosse verão, eu entenderia. Ninguém fica bonito por muito tempo no calorão. Mas o clima ainda está ameno, não justifica a terra virar sertão em poucos dias. E os vasos, o que pensam disso tudo?
Para as plantas da rua, nem precisa perguntar. Elas se viram com a água da chuva, seus galhos aprendem a desviar dos fios de luz, suas flores espalham cor na paisagem urbana. Especialmente nessa época do ano, as calçadas se transformam em tapetes floridos. Quem mora em Porto Alegre sempre se encanta com o espetáculo dos Ipês rosas e amarelos. Do lado de fora da minha janela, vejo a natureza florescendo sem reclamações. Já do lado de dentro, apesar do solzinho gostoso, tem mimimi.