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Saúde pública

OMS diz que estamos perto do fim da pandemia, mas quando será?

Não há indicadores específicos para dar adeus ao estado de emergência mundial, mas os índices atuais são os melhores até agora 

30/09/2022 - 09h11min

Atualizada em: 30/09/2022 - 09h11min


Marcel Hartmann
Marcel Hartmann
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Félix Zucco / Agencia RBS
Cobertura vacinal e descoberta de novos tratamentos ajudaram a reduzir a gravidade da covid-19

O avanço da cobertura vacinal, a descoberta de novos tratamentos e o surgimento da variante Ômicron — que é menos letal — reduziram a gravidade da covid-19 no mundo. Como resultado, diversas autoridades internacionais vêm prenunciando que o fim da pandemia está próximo. A mudança de status, todavia, ainda é alvo de dissenso na comunidade científica. 

Na metade de setembro, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, afirmou que "nunca estivemos em posição melhor para acabar com a pandemia". Ele acrescentou que "não chegamos lá ainda, mas o fim está à vista". Também destacou que países devem vacinar suas populações e seguir testando.

O boletim semanal da OMS emitido na quarta-feira (28) mostra que, na última semana, o número de novos casos de coronavírus no mundo caiu 11%, e o de mortes, 18%. Desde o início da pandemia, foram 6,5 milhões de óbitos no mundo pelo Sars-Cov-2.

Cabe à OMS declarar o fim da pandemia, uma vez que foi a entidade responsável por anunciar a emergência sanitária mundial. Mas os requisitos para a mudança não estão escritos em pedra e envolvem análise de diferentes estatísticas, como números de transmissão, morte e cobertura vacinal, além do risco de novas variantes.

Não há definição, por exemplo, sobre o número de mortes diárias necessárias para dizer que tudo acabou. O que mostram os números é que chegamos ao melhor momento da pandemia, como mostram os gráficos a seguir. Dados do Ministério da Saúde analisados por GZH nesta quinta (29) apontam que o Brasil está com média móvel de 46 mortes diárias por coronavírus – já chegou a mais de 3,1 mil. 

O Rio Grande do Sul, por sua vez, apresenta média de cinco vítimas por dia – no pior momento, eram mais de 300. Ainda em solo gaúcho, há cerca de duas semanas uma média de 50 pessoas estão internadas em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) com coronavírus. O número de casos gravíssimos chegou a mais de 2,6 mil em março do ano passado. 

— O que a gente pode dizer é que, muito provavelmente, 2022 é o último ano da pandemia.  A pandemia existe em momento de necessidade. E, em quase todo o mundo, temos uma estabilização nos níveis de internação e óbitos. Hoje, a covid é uma doença de imunossuprimidos e extremos idosos, acima de 75 anos — diz o médico Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp). 

Cada país vem, da sua maneira, decretando o fim da pandemia. O Brasil encerrou o estado de emergência sanitária no início do ano, o que acabou com financiamentos especiais e atalhos burocráticos para o combate à doença. 

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou na semana passada que a pandemia acabou, mesmo em um cenário no qual mais de 400 norte-americanos morrem por dia de coronavírus. A afirmação foi criticada por especialistas, inclusive do próprio governo, como Anthony Fauci, conselheiro de saúde de Biden. Outros governos tomam decisões indicando que o coronavírus agora é rotina nos atendimentos de saúde.

— Acho precoce dizer que a pandemia acabou no mundo. Estamos aceitando, para a economia rodar, números relativamente altos. No mundo, são cerca de 1,7 mil óbitos por dia. Há muitos países ainda com quantidade de mortes razoável. Cerca de 400 são nos Estados Unidos, que têm uma das menores taxas de vacinação entre países desenvolvidos. Tudo indica que há maior controle, mas podem surgir novas variantes — diz a médica Ligia Kerr, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e professora de Epidemiologia na Universidade Federal do Ceará (UFC).

A Alemanha, nos últimos dias, vê aumento no número de casos. Na Índia, uma nova subvariante da Ômicron, a BA.2.75.2, chamada informalmente de Centaurus, provoca nova onda de infecções. Mas não há como saber, ainda, se a cepa irá de fato preocupar. A cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, afirmou ser muito cedo para prever qualquer cenário. A entidade não classificou a Centaurus como variante de preocupação, mas monitora a novidade.

— Há uma conjuntura de fatores que podem colocar o fim da pandemia por água abaixo, como o surgimento de uma nova variante altamente infectiva, mesmo para quem já teve contato com o vírus ou vacinados, sobretudo há muito tempo. Mas tudo leva a crer que a chance de uma nova variante gerar e se repetir é menor, por isso a expectativa da OMS de que o fim da pandemia está próximo — diz o médico infectologista Alexandre Barbosa.

O que parcela da comunidade científica defende é que o cenário melhorou e pode melhorar ainda mais. Apenas 28,87% da população do continente africano tomou a primeira dose, mostram dados do Our World in Data desta quinta-feira (29). 

O virologista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Brandão destaca que a baixa cobertura vacinal é um entrave, mas pondera que é baixo o risco de nova variante que coloque tudo a perder. As vacinas atuais, destaca, protegem contra todas as cepas atuais. Mais conservador, Brandão entende que a pandemia deve durar mais dois anos. 

— Estamos no caminho de sair da pandemia, mas não acabou ainda. Os casos de covid vão diminuir bastante, ela vai se tornar uma doença sazonal, mas deve depender de revacinação anual. Quanto é o mínimo possível de mortes por covid? Não sabemos. Mas é muito improvável que mude o cenário completamente, baseado na evolução dos coronavírus e nos dados das variantes que já surgiram — diz o virologista. 

O consenso de especialistas é de que o fim da pandemia será alcançado mais rapidamente conforme a cobertura vacinal crescer. Só no Rio Grande do Sul, 661 mil pessoas estão com a segunda dose atrasada, 3 milhões com a terceira e 2,2 milhões, com a quarta, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul (SES-RS). A proteção de cada dose cai após cinco meses. 


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