Triunfo da ciência
Quase metade do RS não registrou casos de covid na última semana
Epidemia se aproxima do fim, mas dose de reforço ainda é necessária
A pandemia está perdendo força em meio ao triunfo da ciência. Dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, 214 (43%) não registraram oficialmente nenhum caso de coronavírus na última semana, mostram dados informados pelas prefeituras à Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS) e analisados por GZH na tarde desta quinta-feira (15).
Cinco meses atrás, quando GZH analisou o fenômeno, a melhora da epidemia já se desenhava: à época, um terço do Estado não havia registrado infecções por coronavírus na semana anterior.
A reportagem analisou todos os casos de covid-19 comunicados pelas prefeituras ao governo estadual e excluiu municípios que registraram alguma infecção entre quinta-feira passada (8) e esta quinta (15) – o que totaliza sete dias de recuperação, tempo de isolamento preconizado pelo Ministério da Saúde.
Os municípios sem coronavírus são pequenos. Na Região Norte, em Água Santa, cidade de 3,7 mil habitantes, e em Santo Expedito do Sul, de 2,2 mil moradores, ninguém tem coronavírus há mais de 20 dias. Em Nova Roma do Sul, município de 3,7 mil pessoas na Serra, o vírus não dá as caras desde o último dia de agosto.
O controle da epidemia em solo gaúcho ocorre a despeito de todas as flexibilizações de uso de máscaras e de distanciamento social, mediante um cenário de altíssima cobertura vacinal: 82% buscaram a segunda aplicação, 53% receberam a terceira dose e 16% de todos os gaúchos tomaram a quarta dose, ainda conforme dados do Palácio Piratini.
Uma ressalva deve ser feita, todavia: as estatísticas de casos estão subnotificadas, uma vez que muitas pessoas realizam autotestes em casa ou não se testam devido a sintomas fracos. Além disso, alguns municípios podem estar com casos ativos neste momento, mas não os informaram ainda ao governo do Estado.
— A subnotificação está em nível elevado, muitas pessoas têm casos leves, parecidos com resfriados e gripe. A preocupação pela população diminuiu bastante. A boa notícia é de diminuição no número de hospitalizações e mortes. O controle da covid está se aproximando de um controle que fazemos da gripe. O impacto da covid diminuiu, no entanto ainda é muito maior do que outras doenças respiratórios, por isso devemos manter a vigilância — diz Paulo Gewehr médico infectologista e coordenador do Núcleo de Vacinas do Hospital Moinhos de Vento.
O virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale, destaca que o Rio Grande do Sul, assim como outras regiões da América Latina, está chegando a uma nova fase: quando casos e mortes por coronavírus se concentram em grandes cidades ou regiões metropolitanas, onde há maior circulação de pessoas. No Interior, o Sars-Cov-2 afeta pouco.
O pesquisador explica que esta virada de chave ocorre por dois motivos: o avanço da terceira e da quarta dose entre a população aliada à imunidade conferida pela infecção já adquirida por Ômicron.
— Estamos em momento chave para fazer uma virada e dizer que vamos entrar em uma fase de extinção da pandemia mais adiante. Com as duas doses, apagamos um incêndio e ganhamos fôlego para enfrentar a variante Delta. Mas as doses de reforço é que viraram o jogo do ponto de vista da redução das mortes. O cenário de hoje é fantástico. O único desafio é aumentar a conscientização sobre o reforço da vacinação para respirarmos de maneira absolutamente tranquila — diz o pesquisador.
Até o momento, 2,2 milhões de gaúchos estão com a quarta dose em atraso, 3 milhões com a terceira dose atrasada e 655 mil não buscaram a segunda aplicação.