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Transporte coletivo

Como Porto Alegre derrubou assaltos a ônibus em 95%

Comparação entre janeiro e setembro de 2016 e igual período deste ano aponta queda no crime, segundo Fórum Transporte Seguro

26/10/2022 - 09h27min

Atualizada em: 26/10/2022 - 13h01min


Bruna Viesseri
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Jonathan Heckler / Agencia RBS

Andar de ônibus faz parte do cotidiano dos porto-alegrenses que, muitas vezes, precisam enfrentar a sensação de insegurança para se deslocarem pela cidade. No entanto, dados do Fórum Transporte Seguro apontam que houve queda nos assaltos em ônibus na Capital ao longo dos últimos anos: entre janeiro e setembro de 2016 foram 743 casos, contra 39 ocorrências no mesmo período deste ano, uma redução de 95%. Na comparação com o igual período no ano passado, foram 61 casos registrados.

Para as forças de segurança, empresas de ônibus e entidades da área, a queda decorre de diferentes fatores, como o maior policiamento, o incentivo ao uso do Cartão Tri, que diminui a circulação de dinheiro nos coletivos, e também a realização de palestras para orientar funcionários que atuam nos ônibus.

GZH circulou, na tarde desta terça-feira (25), pelo Terminal Triângulo, na Zona Norte, um dos mais movimentados da Capital, e conversou com passageiros. Apesar dos números, usuários do transporte coletivo relatam receio de assalto e cuidados que tomam para evitar roubos.

Os dados foram divulgados pelo Fórum Transporte Seguro, criado em 2008 na tentativa de promover mais segurança nas viagens de ônibus e lotação na Capital. O grupo reúne integrantes da Polícia Civil, Brigada Militar (BM), Guarda Municipal, EPTC e a Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP). Durante as reuniões, uma força-tarefa foi criada por parte da Polícia Civil, em 2016, com ações de fiscalização e monitoramento mais efetivas que, posteriormente, virou uma delegacia.

Para o delegado Daniel Ribeiro, titular da Delegacia de Polícia Especializada de Repressão a Roubos em Transporte Coletivo (DRTC), a integração entre órgãos de segurança e empresas e entidades de transporte foi fundamental para a redução dos números e para que, em 2019, fosse inaugurada a DRTC.

— Começou como uma força-tarefa integrada em 2016 e, posteriormente, virou uma delegacia especializada, que inauguramos em 2019. Desde então, o serviço é mais direcionado, deixa de ser apenas uma força-tarefa com ações e passa a ter recursos próprios, direcionados — conta.

Na avaliação da presidente da ATP, Tula Vardaramatos, a criação da delegacia foi um "passo muito importante" para a obtenção dos números vistos nos nove primeiros meses deste ano.

— A delegacia especializada foi criada a partir do fórum. Desde então, as ações se intensificaram ainda mais — conta Tula. 

Já em 2017, um ano após a criação da força-tarefa, o número de assaltos reduziu para 615. No ano seguinte, em 2018, o número baixou ainda mais, quando foram registradas 400 ocorrências nos nove primeiros meses do ano.

Outro ponto destacado por Tula é o incentivo ao uso do Cartão Tri como forma de pagamento das passagens, o que pode estar atrelado à queda das ocorrências.

— A ATP realiza campanhas nas redes sociais para incentivar o uso do Tri e espalha diversos materiais dentro dos ônibus. Neste ano, já alcançamos mais de 6 milhões de pessoas pelas redes sociais, isso é importante. O uso do Tri diminui a circulação de dinheiro, o que pode tornar o ônibus menos atrativo — destaca a presidente.

Esse também é um dos fatores citados pelo motorista da Carris, Arno Borges, 43, que trabalha há nove anos na condução de coletivos na Capital — antes, ele também havia atuado como cobrador. Borges relata já ter sido assaltado três vezes durante o trabalho.

— Costumavam esperar o ônibus ficar mais vazio, para roubar o dinheiro das passagens. Aconteceu três vezes, em que fui abordado com faca. De uns anos para cá, diminuiu o dinheiro dentro do ônibus, isso contribuiu para a queda. Hoje em dia, o que a gente vê mais é que o assaltante está atrás do passageiro, principalmente aquele que está desatento. Sentam bem no fundo e ficam cuidando. Aí, numa parada, eles passam a mão no celular e saem correndo — avalia Borges.

Jonathan Heckler / Agencia RBS
Motorista da Carris, Arno Borges, 43, afirma que já foi assaltado três vezes durante o trabalho

O motorista ressalta ainda que a presença de câmeras de monitoramento reforça a sensação de segurança, assim como a presença de PMs dentro dos veículos, durante o policiamento.

— Hoje, tudo é gravado dentro do ônibus. Tem mais de uma câmera aqui dentro, isso traz um pouco de segurança. Também é bem frequente os policiais entrarem no coletivo, acontece toda a semana. Olham o pessoal, o veículo para identificar se tem algo suspeito, falam com motorista e cobrador. Isso contribui muito — relata.

Comandante do Comando de Policiamento da Capital (CPC), o coronel Luciano Moritz afirma que esse trabalho das equipes da Brigada Militar junto as paradas e coletivos, que ocorre diariamente.

— São feitas diversas ações, que estão atreladas a rápida resposta dos PMs quando um potencial suspeito é detectado em determinado local. Todos os batalhões de Porto Alegre realizam operações diuturnamente, para promover a tranquilidade dos usuários do transporte coletivo — afirma Moritz.

De maneira geral, Tula acredita que a redução do crime está atrelada ao esforço de um trabalho integrado, que se utiliza de câmeras e troca informações. Além disso, destaca a importância das rondas feitas pela Brigada Militar e das investigações conduzidas pela Polícia Civil.

— Foram instaladas câmeras dentro dos ônibus, equipamentos de alta definição, que ajuda a Polícia Civil a identificar os suspeitos dos delitos durante a investigação. A BM se fez mais presente dentro dos ônibus também. Além disso, temos um grupo muito grande, então quando há alguma ocorrência já começamos a trocar informações por lá, para resolver de imediato — conta Tula.

Atenção ao embarcar

Apesar da queda registrada, passageiros relatam insegurança durante o deslocamento pela Capital. Uma usuária de 64 anos, que preferiu não se identificar, conta que já foi furtada dentro do coletivo que leva até o Jardim Itu-Sabará, há cerca de dois anos. Ela afirma que o crime teria sido cometido pela chamada Gangue das Gordas, grupo que ficou conhecido por cometer furtos em Porto Alegre e cidades próximas.

— Perto da minha parada, eu fui para a porta do ônibus e uma mulher parou na minha frente, me trancando. Veio mais duas, uma em cada lado meu. Eu achei muito estranho na hora, mas o ônibus estava lotado de gente, não dava para ver. Elas rasgaram minha bolsa e levaram de tudo. Eu vi que um homem ficou falando com o cobrador e o motorista, distraindo, ele estava junto com elas — lembra.

A passageira afirma que só percebeu o furto quando entrou em uma agência bancária, após descer do coletivo.

— Eu tinha uns R$ 3 mil comigo, meu salário e do meu filho. Levaram carteira, celular, umas joias que estavam na minha bolsa, tudo. Quando cheguei no banco para depositar o dinheiro, comecei a chorar. E depois disso eu já vi elas por aí de novo. Pego ônibus sempre, é bem comum ouvir relato de assaltos nos coletivos.

Para evitar roubos, Fernanda Soares, 39, conta os cuidados que toma ao embarcar. Ela afirma que usa o transporte coletivo todos os dias, há mais de 20 anos, e nunca foi assaltada.

— Nunca presenciei, mas sei de gente que já foi assaltada. Eu sinto mais medo dentro do ônibus do que nas paradas, porque aí tem mais gente circulando. O voltar para casa à noite é o que mais dá medo. Entro com o celular guardado, junto ao corpo, a bolsa a vista. Tem sempre que cuidar.

Jonathan Heckler / Agencia RBS
Fernanda Soares, 39, conta que toma cuidados ao embarcar em coletivos na Capital

Tripulação recebe palestras

Outro fator que contribui para segurança durante as viagens, segundo o delegado Daniel Ribeiro, é a realização de palestras feitas junto à tripulação dos coletivos, que também ajudam no trabalho da Polícia Civil, afirma.

— Instruímos a tripulação sobre como agir durante um assalto e o que observar para preencher um boletim de ocorrências posteriormente. Claro que sempre oriento a manter a calma, o que é imprescindível também. Acredito que esse conjunto de fatores contribui muito nas investigações — diz Ribeiro.

De acordo com a Polícia Civil, é importante sempre se manter atento ao se deslocar nos ônibus.

— Evite deixar bens materiais de valor, como celular ou relógio, aparentes. E não se deixe distrair com celular ou conversas paralelas — orienta Ribeiro.

O delegado reforça ainda que é importante ter consciência sobre seus objetos pessoais e mantê-los na vista. Ao presenciar um assalto, a Polícia Civil orienta manter a calma e não reagir.

*Produção: Lucas de Oliveira


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