Zona Norte
Frequentadores denunciam tentativas de envenenamento de animais em praça de Porto Alegre
Tutores dos cães afirmam que também já foram atirados rojões em direção ao cachorródromo improvisado em uma quadra; polícia pretende aprofundar investigação sobre autoria das ações
Frequentadores da Praça Frank Long, localizada no bairro Passo d’Areia, na zona norte de Porto Alegre, estão preocupados com a saúde de seus animais de estimação. Somente neste ano, eles registraram ao menos três tentativas de envenenamento na quadra poliesportiva do espaço, que serve como um cachorródromo improvisado. De acordo com os tutores, também já atiraram rojões em direção ao local. A Polícia Civil vai investigar a autoria das ações.
A nutricionista Nathalia Castro, 28 anos, foi a primeira pessoa a denunciar uma tentativa de envenenamento no grupo de WhatsApp dos frequentadores do local, que foi revitalizado pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb) em fevereiro. Tutora do cachorro Catatau, ela relata que, em 7 de maio, levou o pet até a praça por volta do meio-dia, onde ficaram cerca de uma hora. Às 18h, voltaram à quadra e uma pessoa lhe avisou que havia salsichas espalhadas pelo chão.
Antes que Nathalia pudesse impedir, Catatau comeu alguns pedaços do alimento, que tinha substâncias azuis dentro. Segundo a nutricionista, o animal teve poucas reações, mas precisou ficar internado em observação por dois dias.
— Levei um pedaço da salsicha e o pessoal da clínica veterinária disse que era algum tipo de veneno. Ele recebeu medicação na veia e ficou mais duas semanas tomando remédio para evitar possíveis complicações — explica a tutora do cão de porte médio, ressaltando que registrou boletim de ocorrência, mas o mesmo foi recusado porque não havia ninguém para ser acusado.
Nathalia afirma que continua frequentando o local porque é o mais próximo de sua residência, mas agora sempre faz uma ronda na quadra antes de soltar Catatau. Ela leva o cão na quadra há mais de dois anos e comenta que, frequentemente, uma moradora do condomínio em frente à praça reclama, pela janela do seu apartamento, dos latidos dos animais.
Moradora da região, Cintia Bertoto, 69, conta que antigamente um grupo de pessoas costumava se reunir com os animais no meio da praça. Há cerca de seis anos, uma das frequentadoras decidiu transformar a quadra em uma espécie de cachorródromo, já que o local era pouco utilizado por outras pessoas. Para poder soltar os cães, ela instalava telas nas entradas da quadra.
Com o passar do tempo, mais pessoas começaram a levar seus animais para o local. Por isso, fizeram vaquinhas para instalar portões sem trancas, bancos, bebedouros e placas. Conforme os tutores, a relação com outros usuários da praça sempre foi pacífica: quando alguém queria utilizar o espaço para jogar futebol, por exemplo, os cachorros eram retirados.
A empresária Cíntia é tutora de duas cadelas e sempre as leva para passear ali. No entanto, não utiliza o espaço improvisado em conjunto com demais tutores porque seus animais são pequenos e têm medo dos outros cachorros. Em agosto deste ano, ela estava passeando com as cadelas na calçada próxima à praça quando alguém arremessou um rojão na direção da quadra. Devido ao vento, o artefato caiu a um metro dela.
— O susto foi tão grande que tive que tomar um remédio para dormir no dia. Fiz um boletim de ocorrência — comenta, ressaltando que todos os tutores que frequentam o local acreditam que a ação tenha sido direcionada aos animais.
Depois do caso do rojão, mais pedaços de salsichas com veneno foram encontrados na quadra. Já em 30 de setembro, outros frequentadores localizaram vários pedaços de bolinhos de carne espalhados na área. No início deste mês, um dos usuários do espaço registrou boletim de ocorrência sobre o fato.
Pierry Bos, 35, costumava levar suas duas cadelas, Mola e Madelena, para passear na praça antes desses episódios. Desde então, tem evitado o local por medo de que os animais sejam envenenados ou feridos de outra forma. O programador aponta que os portões instalados na quadra também foram furtados neste ano.
— O que está tendo é uma perseguição com relação aos cachorros. Os frequentadores estão vendo com a prefeitura para tentar montar um outro espaço na praça, mas será que a perseguição vai parar quando tiver esse outro espaço? Porque não tem justificativa, sempre tivemos uma convivência pacífica, várias vezes teve jogo e o pessoal (donos dos cães) saiu — relata.
Os frequentadores afirmam que a situação está assustando tutores e até mesmo pais que levam seus filhos pequenos ao local.
Prefeitura retirou itens da quadra
De acordo com Nathalia, na terça-feira (4) à tarde, funcionários da prefeitura estiveram na quadra para retirar os portões, bancos e demais itens instalados pelo grupo, que é composto por mais de 40 moradores da região. Na ocasião, retiraram também um banco personalizado, que tinha o desenho de todos os cachorros que frequentam o local. Esse item foi guardado por representantes da associação de moradores.
Para a nutricionista, um dos funcionários municipais afirmou que haviam recebido uma denúncia. Questionada por GZH, a Secretaria do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) confirmou, em nota, que retirou “portões, bebedouro e lixeira de dentro da quadra poliesportiva da Praça Frank Long por terem sido colocados em local inadequado para o uso a que se destina o espaço”.
O texto destaca ainda que, para a instalação adequada de um cachorródromo no local, os moradores precisam fazer uma solicitação via canais do 156.
“A prefeitura reitera que o espaço é público e que todas as obras de melhoria ou adequação dos equipamentos devem ser aprovadas pelo poder público e que está à disposição para conversar com a comunidade do entorno sobre a melhor utilização da área. Um formulário será disponibilizado para identificar junto à população as prioridades quanto aos equipamentos da praça”, diz outro trecho da nota.
Polícia Civil vai investigar o caso
O delegado Alexandre Vieira, titular da 9ª Delegacia da Polícia Civil de Porto Alegre, onde os boletins de ocorrência foram registrados, informou que a equipe está em contato com o denunciante para verificar se ele tem algum indicativo de autoria, o que permitiria aprofundar a investigação e chegar aos culpados pelas ações. Segundo o delegado, imagens de câmeras de segurança serão solicitadas ao síndico do prédio que fica próximo à praça.
Os frequentadores do local pretendem realizar uma manifestação pacífica no próximo sábado (8) para chamar atenção para a situação. Eles também pretendem instalar um novo cachorródromo na praça, com autorização da prefeitura.