Coluna da Maga
Magali Moraes: visitante ou acompanhante?
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Há semanas eu tenho feito diariamente o trajeto casa-hospital, hospital-casa. Quem já acompanhou um familiar internado sabe bem como é. Ainda mais se for a mãe da gente. E também se forem duas emergências seguidas, a última coincidindo com os aniversários dos três filhos da paciente em questão. Não foi exatamente a comemoração que esperávamos, mas teve amor, abraço e presença. As expectativas se adaptam, a importância das coisas fica límpida feito água. A saúde vem primeiro.
Esse trajeto é meu velho conhecido. E cada vez que me vejo indo ou voltando, relembro a potência que é acreditar numa força superior que nos protege (não importa a religião). Os dias e as noites? Ficam longos. Que os médicos apareçam enquanto estivermos lá, trazendo boas notícias. Dividir o quarto com pessoas desconhecidas é uma experiência à parte: com um pouco de sorte, a companhia é bem-vinda e a convivência tranquila. O controle da TV pode baixar o volume das preocupações?
Cama
Acho que não existe situação melhor pra exercitar a empatia. Não somos nós na cama, não é o nosso corpo que é espetado com agulhas e reage aos medicamentos. Mas é como se fosse. Com o perdão do trocadilho, sorrir pode ser o melhor remédio. De sem graça já basta a comida (nem é culpa dos cozinheiros, e sim de orientações médicas). Os visitantes e acompanhantes chegam com novidades, atualizações meteorológicas e o vínculo com a vida a ser retomada. Somos parte da recuperação.
Voltei a me viciar em álcool gel (agora na versão espuminha), e reaprendi a usar máscara. Ofereço risadas, conversas e cobertor, insisto nos copos de água, tempero a salada, aqueço a comida, ajudo a escovar os dentes, faço funcionar o wi-fi da colega de quarto, coço as costas, penteio o cabelo e dou uns cheiros no cangote. É o coração dela que se recupera, mas é o meu que fica na mão. Andar de ambulância só é legal em filmes de ação. Na vida real, eu gosto mesmo é de calmaria.