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Efeito da vacinação

RS tem 28 pacientes com covid em UTIs, número que representa 1% do pico da pandemia

Maioria dos pacientes com a doença chega aos hospitais em função de outros problemas de saúde, segundo especialistas

24/10/2022 - 08h46min

Atualizada em: 24/10/2022 - 08h47min


Marcel Hartmann
Marcel Hartmann
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André Ávila / Agencia RBS

A alta cobertura vacinal em solo gaúcho transformou um sonho do início da pandemia em realidade: a covid-19 não traz mais grande preocupação entre profissionais da saúde e gestores públicos. 

Neste domingo (23), havia 28 hospitalizados com coronavírus em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) de todo o Rio Grande do Sul, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS). Tal contingente representa 1% do total de pacientes em leitos intensivos do pior momento da pandemia, em março do ano passado, quando hospitais entraram em colapso com 2.646 mil pacientes graves, em cenário descrito por médicos como “de guerra”. Naquele momento, mais de 4 mil pessoas morreram fora de UTI no Rio Grande do Sul, como mostrou investigação exclusiva de GZH.

Para dimensionar o tamanho atual da pressão da covid pressiona sobre o sistema de saúde, o domingo registrou a quarta ocupação hospitalar mais baixa de toda a pandemia no Estado. Cenário mais positivo ocorreu apenas em três dias de abril de 2020, início do avanço do Sars-Cov-2 em solo gaúcho. 

A redução na ocupação hospitalar também se traduz em menor número de óbitos. O Estado apresenta média móvel de três mortes por coronavírus a cada dia, uma das mais baixas da pandemia — no pior momento, eram mais de 300 vítimas diárias.

A transição de pandemia para endemia no Rio Grande do Sul ocorre em cenário de prevalência da Ômicron, variante de menor gravidade, e  de alta cobertura vacinal: 16% dos gaúchos tomaram quatro doses, 54% receberam três aplicações e 82,4%, duas, ainda de acordo com estatísticas oficiais. 

Com tal cenário, uma pessoa infectada lida com expectativa totalmente diferente do que antes da vacina, observa o médico intensivista Fabiano Nagel, chefe da Unidade de Gestão do Paciente Crítico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Se o coronavírus era iminência de morte para alguns, agora, não traz tanto risco. 

— Atualmente, a covid é coadjuvante em ocupação de leitos. Há um volume muito baixo de pessoas com caso grave por covid. A grande maioria dos pacientes com covid não internam por covid: entram com outra doença, como AVC (acidente vascular cerebral), infarto ou neoplasia (câncer), mas manifestam sintomas respiratórios, testamos, dá positivo para covid e colocamos em leito específico, fechado, com as medidas de precaução padrão — diz Nagel. 

Poucos gaúchos não estão vacinados (11,2% dos gaúchos não tomaram sequer a primeira dose), portanto, o perfil de hospitalizados e mortos é de idosos com idade avançada e com doenças, além de indivíduos imunossuprimidos — transplantados, pacientes em tratamento contra câncer —, de acordo com estatísticas oficiais e relatos de médicos que atuam na linha de frente. 

Dados do governo do Estado apontam que, em agosto e setembro, idosos dos 60 aos 79 anos representaram a maior parte dos hospitalizados (41%). Outra análise, divulgada em agosto, mostrou que, do total de vítimas da covid-19 com menos de 40 anos até então, 90,4% tinham comorbidades. 

Um fator de risco para desenvolvimento de caso grave de coronavírus é evitar a vacina. Estudo do governo do Estado mostra que, na comparação entre indivíduos com duas doses e indivíduos sem nenhuma, os não vacinados entre 18 e 39 anos apresentaram risco 152% maior de morrer.

No caso de pacientes entre 40 e 59 anos, não ter recebido imunizante aumentou em 281% o risco de morte. Já entre idosos com 60 anos ou mais, o risco de não se vacinar era 111% maior do que quem recebeu duas doses.

Entre os vacinados, ter tomado a dose de reforço traz grande proteção. Nos pacientes dos 40 aos 59 anos, quem não tomou terceira dose teve 57% mais risco de morte do que quem tomou. Já entre idosos com 60 anos ou mais, quem não tomou a terceira dose apresentou 125% mais risco de morte por coronavírus.

— Hoje, a covid acomete mais pessoas de idade avançada, com comorbidades e imunocomprometidas. Mas pessoas jovens não estão isentas de contrair a doença e evoluir. Todos precisam se vacinar — diz Tani Ranieri, chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do governo do Estado.

Dados da Capital

Porto Alegre estabilizou com uma média de cinco novas internações de pacientes com coronavírus em leitos clínicos e UTIs por semana e cinco mortes semanais, observa o epidemiologista e diretor da Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Fernando Ritter.

— É importante que as pessoas, mesmo que a covid seja coadjuvante, se vacinem, porque não queremos óbitos desnecessários. A covid é uma doença que se pode evitar óbito. Temos a segunda dose de reforço para pessoas com 18 anos ou mais, mas nem todos os pacientes estão com as doses de reforço em dia. A covid não vai zerar nunca. Mas tem como reduzir mais, até metade, se as pessoas se atentarem para a vacinação e cuidarem das doenças crônicas. No inverno, a tendência é aumentar — diz Ritter. 

Entre as regiões com menor cobertura vacinal do Rio Grande do Sul, estão a de Taquara (Vale do Paranhana) e a de Novo Hamburgo (Vale do Sinos), conforme boletim epidemiológico da SES-RS. O alto número de gaúchos com três doses é a salvaguarda, diz o médico intensivista Fabiano Nagel. Mas há espaço para melhora de vacinação, como entre crianças. Estatísticas do governo do Estado apontam que 2022 foi o ano em que, proporcionalmente, mais crianças foram internadas com covid — foram 747 hospitalizações, o equivalente a 5,4% de todos os leitos ocupados. 

— O que temos é grande vitória da vacinação. Mas temos que reforçar a necessidade de tomar as vacinas da covid. Vivemos uma época em que as pessoas relutam em tomar vacinas, não só da covid, mas também de outras doenças, como sarampo e poliomielite. Se não fosse a vacinação, ainda viveríamos um quadro pandêmico grosseiro como enfrentamos entre fevereiro e abril de 2021, que foi a coisa mais trágica que já vi — diz o médico intensivista Fabiano Nagel.


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