Sala de aula às escuras
Sem luz desde julho após sequência de furtos de cabos, escola de Porto Alegre mantém aulas em horário reduzido
Segundo a Secretaria Estadual de Educação,, empresa responsável pelo conserto já foi escolhida e serviço deve iniciar em até 10 dias
Na Escola Estadual de Ensino Fundamental Santa Rita de Cássia, que fica no Morro Santa Tereza, em Porto Alegre, não adianta ligar o interruptor. Desde julho, os 265 alunos das turmas do 1º ao 9º ano estudam com auxílio apenas da luz do sol que entra pelas janelas. Se o tempo estiver nublado ou chuvoso, a situação fica ainda mais difícil.
O problema ocorre em razão de uma sequência de furtos de cabos no poste que fica em frente ao local, na Rua Silveiro. Foram tantas ocorrências, que a direção já até perdeu as contas. Os crimes acontecem desde setembro de 2020. Após vários danos, foi necessário abrir uma licitação para reaver o prejuízo e fazer uma reforma elétrica.
— Nesse meio tempo, a gente vai fazendo orçamento (para as reformas), mas eles vão roubando de novo, e o orçamento não cobre. Até agora, acho que já foram uns oito furtos. Eles arrebentaram com tudo — conta a diretora Jeanine Bastos Bergenthal.
O processo licitatório foi realizado no final de 2021, mas o empresário desistiu. Foi necessário, então, começar tudo do zero para que outro fornecedor executasse o serviço. Enquanto isso, os alunos recebiam atividades para fazerem em casa.
— Arrancaram disjuntor, tudo o que vocês podem imaginar. Quando um empresário me disse "agora eles não tem mais o que levar aqui fora, vão começar a arrebentar as salas de aula", eu corri (para pedir) e a secretaria (Estadual da Educação, a Seduc) autorizou a guarda durante o dia — relembra Jeanine, referindo-se aos vigilantes contratados.
A normalização da rede elétrica ocorreu em maio deste ano, mas a luz não durou muito tempo. Dois meses depois, mais um furto deixou o colégio às escuras novamente. Dependendo de iluminação natural, as aulas presenciais estão ocorrendo em horários reduzidos, das 8h às 10h, e das 13h15min às 15h15min.
Em relação à nova reforma elétrica necessária para recuperação dos fios, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) afirma que o valor de R$ 15.950 será depositado na conta da escola por meio da autonomia financeira. Conforme a pasta, a empresa responsável pela obra já foi escolhida e a previsão é de que o serviço comece em até 10 dias.
Enquanto isso, as refeições dos estudantes também são afetadas pela falta de energia. De acordo com a vice-diretora, Thais Bernardes da Silva, foi preciso fazer uma adaptação.
— O fornecedor da merenda traz a carne que vai ser consumida no dia, porque não temos como armazenar perecíveis. Eles comem no horário das 10h — explica a docente, ao se referir ao almoço.
Para tentar coibir os furtos, a escola conta com seguranças contratados pela vencedora da licitação, que fazem a vigilância ao longo do dia e da noite. No entanto, eles são responsáveis somente pelo cuidado com o interior da escola, não podendo atuar no lado externo, que é onde está o poste. Procurada por GZH, a Guarda Municipal afirmou que "de forma integrada, os patrulhamentos auxiliam na presença ostensiva do Estado, visando, também, coibir este delito".
Jeanine reconhece que a Seduc colabora no enfrentamento do problema, mas se mostra preocupada com os alunos, cujas aulas ficam prejudicadas.
— Minha intenção é fazer com que esses alunos que estão vindo para cá tenham oportunidades de vencer na vida e não ter essas complicações — salienta a diretora.
Votação também no escuro
Eleitores que votam na Escola Santa Rita de Cássia também tiveram que lidar com a falta de energia no primeiro turno, que ocorreu no dia 2 de outubro. Como as urnas são mantidas com baterias que têm autonomia de 12 horas e possuem iluminação, foi possível manter a zona 114 operando na instituição. O espaço receberá a votação novamente para o segundo turno, no dia 30 de outubro.
Em outra escola que enfrenta o mesmo problema a situação foi diferente. Apesar do aviso de que a Escola Estadual Presidente Roosevelt, no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, não teria votação, muitos eleitores foram ao local no primeiro turno. Lá, encontravam cartazes e uma funcionária do colégio entregando um panfleto informando o novo local, junto do Foro Trabalhista, na Avenida Praia de Belas.
Sem luz há mais de um mês, após também ser alvo de furto de cabos, a escola passará por obras para restauração da rede elétrica a partir do final de outubro. A reforma, feita por dispensa de licitação, tem estimativa orçamentária de R$ 150 mil e prazo de execução de 30 dias.