Estância Velha
Mãe é vítima de golpe ao tentar comprar remédio para o filho
Golpistas contataram a família pelo Facebook, oferecendo uma falsa doação do medicamento mediante transferência de valor para o frete
A angústia de famílias que buscam ajuda nas redes sociais para custear o tratamento de doenças raras e a esperança que muitas delas depositam na solidariedade alheia se tornaram munição para golpistas, que aproveitam o momento de ansiedade e fragilidade dessas pessoas para cometer crimes como o golpe do remédio, que está em investigação pela Polícia Civil em Estância Velha, na Região Metropolitana, onde uma moradora foi vítima.
No dia 31 de outubro, Rosângela Trindade, 43 anos, foi abordada pelos golpistas. Ela perdeu R$ 321 após compartilhar, em seu Facebook, uma vaquinha por meio da qual busca recursos para o tratamento do filho, Marcelo Muller, 25 anos, que sofre de fibrose cística, doença genética e crônica que atinge o pulmão. Por recomendação médica, para evitar a evolução da doença até que passe por um transplante, o rapaz precisa usar o medicamento Trixacar. Cada caixa custa cerca de R$ 25 mil, e a família, que não tem condições de arcar com os custos do tratamento, já entrou com pedido judicial, mas enquanto não sai uma decisão favorável, apelou para as redes sociais.
É justamente esse ambiente virtual, em especial o Facebook, que os golpistas utilizam para escolher suas vítimas. Eles procuram publicações de pessoas que precisam do Trixacar, entram em contato dizendo que um familiar que utilizava o remédio faleceu e se oferecem para doar três caixas do medicamento que, supostamente, deixaram de ser utilizadas em razão da morte do paciente. Aproveitando-se da emoção e da gratidão das vítimas, pedem a transferência de um valor via Pix, que seria apenas para pagar o frete das caixas.
— Eu compartilhei a vaquinha do Marcelo no meu Facebook e foi por ali que me acharam. Por volta das 10h, uma mulher entrou em contato e falou que a sobrinha dela tinha três caixas para doar. Então, pediu meu WhatsApp, eu estava muito feliz naquele momento, aliviada, e passei — conta.
Naquele mesmo dia, horas depois, um número com DDD de São Paulo entrou em contato com Rosângela por meio do aplicativo de mensagens. A suposta doadora do remédio disse que queria muito ajudar.
— Ela perguntou onde eu morava e disse que era de São Paulo. Quando falei que era do Rio Grande do Sul, ela falou que poderia me enviar as caixas através do Correios, mas que eu teria que pagar o valor do envio — continua Rosângela. — Eu estava tão feliz e aliviada que em nenhum momento pensei que seria vítima de uma crueldade dessas. Ela me passou o valor de R$ 320,30 e eu pedi dinheiro emprestado para minha cunhada, fiz o PIX e ainda agradeci pela "doação" — diz.
Além da tristeza pela falsa esperança que alimentou, Rosângela conta que o valor perdido faz toda diferença para sua família, que, atualmente, sobrevive apenas com o salário de seu marido, Márcio, 46 anos, que é motorista de caminhão.
— Além do Marcelo, eu tenho outros três filhos, de cinco, nove e 13 anos. Todos nós dependemos do salário do pai deles, porque eu não posso trabalhar, preciso estar ao lado do Marcelo o tempo todo — justifica. — O doutor falou que meu filho precisa do medicamento com urgência. Que, sem ele, sem o tratamento, Marcelo pode não resistir por muito tempo — desabafa a mãe, que se diz "triste e sem acreditar na crueldade das pessoas".
Investigação
Titular da Delegacia de Polícia de Estância Velha, responsável pelo caso, que está sendo tratado como estelionato, o delegado Rafael Sauthier ressalta que trata-se de uma investigação trabalhosa, que depende de autorizações judiciais, e de um golpe que gera indignação:
— É a primeira vez que eu visualizo esse golpe. A maldade das pessoas não tem limites. Tomaram R$ 320 de uma mãe que luta pela vida do filho. Isso causa revolta, é o tipo de crime que deve ter uma punição exemplar.
O delegado ainda reforça que é preciso ter cuidado na hora de realizar compras, pagamentos e transações pela internet.
— Antes de qualquer negociação, é importante se certificar sobre a outra pessoa. Pesquisar o nome dela no Google, olhar bem o perfil — orienta, salientando que o mesmo vale para lojas e serviços online.
Ao encontrar algo suspeito, a orientação é procurar a polícia e não realizar nenhuma transação.
Enquanto a investigação policial se desenrola, Rosângela conta que o maior desafio é manter o filho motivado.
— Estamos tentando de tudo, e aí vem uma pessoa te enganar, brincar com a saúde de outra pessoa. O meu filho tem urgência pelo medicamento, é a esperança de vida esse remédio. Ele está muito abalado — desabafa.
Marcelo deve entrar para fila de transplante de pulmão em janeiro e, até lá, necessita do Trixacar. Quem puder ajudar pode acessar a vaquinha online neste site. O objetivo é arrecadar R$ 100 mil. Até o fechamento desta reportagem, havia alcançado R$ 2.298.